O Natal da alma

Paz e bênção. O Natal da alma.

Jo 16, 20-23a.. V. 20. ‘Em verdade, em verdade, vos digo’. Com autoridade divina, Jesus lança luz em nosso futuro de pessoas que participam do seu mesmo destino de luta e de vitória. ‘Chorareis e gemereis, mas o mundo se alegrará. Vós vos entristecereis, mas a vossa tristeza se tornará alegria’. Os dois tempos são de lamento e tristeza, seja para o seu erguimento na cruz como para o seu abaixamento no sepulcro. São os dois tempos do julgamento e da salvação de Deus, que os discípulos demorarão em entender. O mundo pensará ter vencido, a treva pensará ter capturado a luz. Mas será blefado, e expulso será o chefe deste mundo. E reinará a salvação. Então a tristeza dos discípulos se mudará em alegria, o seu lamento, em dança, a sua veste de saco, em hábito de alegria (Sl 30/29,12).

V.21. ‘A mulher quando entra em trabalho de parto tem tristeza, porque chegou a sua hora. Jesus compara o tempo da aflição ao da mulher em trabalho de parto. Deste modo, faz entender a fecundidade do momento que o discípulo atravessa. Também o grão de trigo morre para produzir fruto (cf. 12,24). Tudo quanto aqui disse Jesus, estará claro aos pés da cruz (cf. 19,23-27).

A aflição, que o discípulo é chamado a sustentar no mundo, é a mesma do seu Mestre e Senhor: uma tribulação tal que não existiu na criação do mundo nem nunca mais existirá (cf. Mc 13,19). Essa, porém, não leva à morte: é “princípio de trabalho” (Mc 13,8b). A humanidade, o próprio criador, é “gestante”: geme nas dores de parto, na esperança da revelação dos filhos de Deus (Rm 8,19).

O discípulo está perturbado pela prova que lhe está diante. Também Jesus o esteve, que logo foi confortado pela voz do céu (cf. 12,27s). Agora Ele nos conforta diretamente, com a sua palavra: a prova, breve, mudar-se-á em fonte de glória perene.

‘Quando nasceu a criança, não lembra mais a aflição’. Jesus quer fazer compreender aos discípulos que a sua aflição é momentânea e positiva. As “dores”, de parto, de fato, não são perigosas: fazem-no vir à luz. ‘Por causa da alegria, porque foi gerado um homem ao mundo’. Este homem é o novo Adão, o Filho, que na cruz vem à luz e ilumina o mundo. Este homem é cada discípulo, que percorrerá a mesma via do seu Mestre. Trata-se de um nascimento – é “o natal da alma” – que produz em nós a alegria, característica própria daquele Deus que é amor.

V.22. ‘também vós agora estais tristes’. O discípulo, diante da cruz, está triste como a mulher, cuja hora do parto chegou. ‘Mas vos verei de novo’. Jesus ressuscitado verá ainda os seus discípulos, como será visto por eles: será a alegria do encontro pascal. Os últimos discursos de Jesus não são um adeus. São, antes de tudo, um até breve, depois de uma dolorosa separação. Mãe e filho se veem reciprocamente só depois do corte do umbigo. ‘A vossa alegria ninguém poderá vos tirar’. A alegria que vem da cruz é invencível; é amor e vida que vence o ódio e a própria morte. É bom notar quantas vezes nos vv. 20-22 se fala de tristeza e de alegria. São o tempero da existência humana.

V.23. ‘e naquele dia. Coloca-se uma conexão – a conjunção “e” – entre a alegria e “aquele dia”, que é aquele da Páscoa (cf. 20,19s). “Aquele dia” será o nascimento do homem novo, numa vida que dura para sempre. É o dia definitivo, o dia do Senhor. Então, o silêncio de Deus se torna “a Palavra”; o tempo de incompreensão e tristeza se transformam em compreensão e alegria. ‘Não me perguntareis mais nada. Perguntar (erotáo) significa também orar. Os discípulos não perguntarão mais nada, porque saberão que o Senhor está com eles (cf. 21,12). Então, terão entendido aquilo que ainda não podem entender agora.

Bom dia. Abraço.