A equipe diocesana da PASCOM realizou uma entrevista especial com Gustavo Martins, futuro diácono da diocese de Lorena
PASCOM: Quais as suas expectativas para a ordenação?
GUSTAVO: A ordenação é um acontecimento que marca indelevelmente a existência do vocacionado: pela graça sacramental recebida, surge um ministro de Deus, configurado ao Cristo servidor, que se coloca à disposição do Povo de Deus, a serviço da Igreja. Não se trata pura e simplesmente da realização de um sonho pessoal, da concretização de um projeto subjetivo de vida. É mais do que isso: eu tenho a consciência de que estou na proximidade de realizar a vontade de Deus na minha vida, a qual passa pelo exercício do ministério diaconal e, futuramente, sacerdotal.
PASCOM: Como você descobriu a sua vocação?
GUSTAVO: Descobri minha vocação ao sacerdócio no serviço do altar, auxiliando o padre nas funções litúrgicas, aos 13 anos. Embora o meu despertar tenha acontecido dessa maneira, considero que, antes mesmo de me tornar acólito na minha paróquia de origem, quando ainda tinha uns 3 ou 4 anos, já manifestava certa inclinação e admiração pelas coisas referentes à missão do sacerdote. Provavelmente em razão influência religiosa que recebi no seio familiar. Recordo-me de minha primeira “túnica”: uma camiseta branca do meu pai, a qual eu costumava vestir quando, reunindo minha família em frente a um banco de madeira tornado púlpito, e segurando uma Bíblia com minhas mãozinhas, dizia que iria “Pregar a Palavra”, como o Padre Jonas Abib… Minha família não continha os risos e admiração… É evidente que a atmosfera religiosa proporcionada pela minha família conduzia-me a uma profunda, e até mesmo inconsciente, admiração pela figura do sacerdote. Entretanto, não posso deixar de ver nesses pequenos “sinais” a manifestação de uma vocação divina que desabrocharia no momento certo.
PASCOM: A vida na comunidade paroquial te ajudou?
GUSTAVO: Sim, sem dúvida! Foi na participação ativa e engajada na minha comunidade paroquial de origem, Nossa Senhora de Fátima, em Cruzeiro, que pude discernir melhor o desejo de consagrar minha vida a Deus como sacerdote. Posso mesmo dizer que o contato com a vida em comunidade foi determinante no meu processo de discernimento vocacional, condição indispensável para o meu “despertar”. Na paróquia, pude servir como acólito, além de participar e atuar em grupos da Renovação Carismática, onde fiz muitas amizades, as quais perduram até hoje. Nesse sentido, o contato com o povo de Deus foi o que amadureceu e deu forma, por assim dizer, aos anseios de consagração a Deus que fui discernindo em meu coração. Para resumir, considero que no início do meu processo de discernimento vocacional havia como que um sentimento de que o meu caminho era o de uma consagração específica a Cristo e à sua Igreja. Depois, esse sentimento foi ganhando forma pelo conhecimento da vida paroquial e diocesana, mais precisamente na consideração da vida do padre diocesano.
PASCOM: Quais os seus sonhos pós-ordenação?
GUSTAVO: A ordenação é um meio, um caminho por meio do qual Deus nos chama a servir. Nesse sentido, os sonhos que perduram no “pós-ordenação” se relacionam sempre, no meu entendimento, à correspondência que damos ao nosso chamado. Dessa forma, meu maior anseio e sonho, por assim dizer, é continuar correspondendo à vocação para a qual Deus me chamou. E isso passa necessariamente pelo caminho da obediência e fidelidade à Igreja e seus representantes. Sonho em servir com verdadeiro ardor e zelo o rebanho que Deus, um dia, me conferir, obedecendo ao meu Bispo Diocesano e seus sucessores – como irei prometer em minha ordenação diaconal e sacerdotal –, sempre contribuindo para o crescimento e florescimento espiritual e pastoral da minha Diocese.
PASCOM: Qual a importância do clero para a igreja?
GUSTAVO: A Igreja é essencialmente divina: ela é o Corpo místico de Cristo na história, seu prolongamento sobrenatural, o qual torna presente a vida do Ressuscitado neste mundo. Nesse sentido, os padres e bispos não representam apenas a autoridade institucional estabelecida. Para nós, eles representam o próprio Cristo, uma vez que agem “in persona Christi” quando celebram os sacramentos ou exercem as funções ministeriais. Eis o mistério da Igreja, que está intimamente associado ao mistério da vida ministerial dos sacerdotes: daqui deriva sua importância e significado.
PASCOM: O que você falaria para um jovem que está em discernimento vocacional?
GUSTAVO: Reze! Se toda vocação é um chamado divino, seu discernimento só acontece quando nos colocamos diante de Deus, em oração, sabendo que Ele nos ouve e está pronto a nos responder. À percepção ou sentimento do chamado divino que naturalmente se encontra no coração de todo vocacionado ao sacerdócio deve acompanhar uma disposição verdadeira de aprofundamento e escuta, por meio da qual se chega a certa convicção moral das intenções que motivam aquele que se sente chamado a se tornar padre. É claro que a via convencional e ordinária de confirmação da vocação não são as experiências místicas ou revelações sobrenaturais… Aqui, é necessária a máxima sinceridade consigo mesmo e a clara consciência das aptidões pessoais. A desejada confirmação acontece progressivamente, no “confronto” da nossa vida com o Deus que nos chama. Esse amadurecimento vem pela oração discursiva ou meditativa, no contato com a Palavra de Deus e com os mistérios da nossa fé. Nesse processo, as dúvidas vocacionais não se dissolvem por completo. Daí a necessidade de ser acompanhado por um bom e experiente diretor espiritual, desde o início do discernimento. O período de formação no seminário também vai amadurecendo e purificando nossas intenções. Todo vocacionado tem um pouco de Abraão: vive de fé, caminha em direção à realização da promessa. É necessário dar o primeiro passo e seguir, sem a pretensão de querer ver a obra consumada tão logo se comece a percorrer o caminho.
PASCOM: Faça um convite para a comunidade paroquial
GUSTAVO: Bem, gostaria de me direcionar não apenas ao povo da minha querida comunidade de origem, a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, mas também a todas as demais comunidades pelas quais eu passei e pude desenvolver trabalhos pastorais como seminarista: venham participar desse momento tão singular para toda a Diocese, que é uma ordenação ministerial! Trata-se de um evento eclesial que envolve a Igreja Particular como um todo. Pela ordenação diaconal, um novo ministro de Deus é instituído para o serviço da Igreja. É, nesse sentido, uma festa diocesana, e por isso mesmo o Povo de Deus é chamado a celebrar, com grande alegria, a ordenação de um novo ministro da Igreja.