Homilia de Dom João – Quinta-Feira Santa

Dom joão e seu presbitérioAmados irmãos e irmãs,

Celebro, hoje, pela primeira vez a Missa Crismal, como Bispo de Lorena. Saúdo com afeto a todos vós, especialmente os amados sacerdotes do Senhor que hoje recordam, como eu, o dia da Ordenação….

1. As Leituras da Liturgia de hoje falam-nos de Unção, de “Ungidos”: o Servo de Javé, referido por Isaías, e Jesus, nosso Senhor. O Espírito do Senhor unge, consagra para a missão. Quem realiza isso é o Senhor. Nós sabemos que “o sacerdócio é escolha de Deus”: ninguém por si escolhe ser Padre, ninguém se unge. Trata-se de uma iniciativa que o Senhor toma. É o Senhor que chama. O Padre foi e continua sendo rezado do Pai por Jesus: ele brota da santa vontade de Deus para realizar o que é do agrado de Deus. Os Padres são os Ungidos do Senhor, por vontade de Deus. Por isso, ninguém de nós pode matar a unção. Não se mata algo que é de Deus. Esta vocação vem de Deus. Nunca é propriedade do Padre. Jesus participa e confia aos Sacerdotes este múnus, em vista do bem da Igreja. A vocação sacerdotal é, pois, graça incalculável. São Paulo recorda: Reconhece a tua vocação! E recomenda ao discípulo Timóteo que não descuide do dom, mas que sempre reavive o dom de Deus que nele está pela imposição de suas mãos. E afirma: Deus não nos deu um espírito de medo, mas de força, de amor e de sabedoria”. Por isso, nós, Sacerdotes, precisamos de zelo, vida de oração, olhos fixos no Senhor. Nada de descuidar disso. Cada um de nós é o primeiro responsável do cultivo do dom que o Senhor confiou à Igreja, em nós. Aprendamos sempre de novo de Jesus: ele se retirava para o monte e passava a noite em oração. Períodos longos diante do Senhor criam afeto no coração do Padre. São João lembra que Jesus ouvia o que o Pai lhe dizia e olhava a vida do Pai. Depois falava o que tinha ouvido e fazia o que tinha visto o Pai fazer. Caros Padres: somos vocacionados a ser portadores do próprio Deus. As pessoas querem em nós tocar e encontrar Deus. Sabem que nós somos pessoas de Deus. Papa Francisco, com serenidade e talvez com certa preocupação, diz: “quando não se alimenta o ministério com a oração, com a escuta da Palavra de Deus e com a celebração quotidiana da Eucaristia, mas também com uma frequentação do Sacramento da Penitência, acaba-se inevitavelmente por perder de vista o sentido autêntico do próprio serviço e a alegria que deriva de uma profunda comunhão com Jesus”. O Padre é chamado para ‘amar com a mesma abrangência de Deus’, com o coração misericordioso de Deus.

2. O Padre é homem conquistado e alcançado por Deus, como experimentou São Paulo. A unção recebida destina-se ao povo fiel de Deus, de quem é servidor; a sua unção, como lemos no Evangelho: prioritariamente, “é para” os pobres, os presos, os oprimidos, os doentes e quantos estão tristes e abandonados. A unção que recebemos não é para nos perfumar a nós mesmos; e nem para recebermos deferências ou para nos manter longe das estradas por onde nossa gente caminha e vive. Cristo, com o seu bom perfume, quer chegar ao nosso povo, por isso nos chama, constitui, consagra e envia: Ide às encruzilhadas!

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3. Dom Cláudio Hummes, recentemente, recordou que Jesus, em tudo, ensina a sermos pastores. Nosso Papa, contemplando a vida de Jesus, recorda-nos que Deus quer uma Igreja que saia “em busca dos desvalidos e dos mergulhados na miséria, na fome, no descaso, no abandono, na noite da desesperança seja material seja espiritual. Portanto, uma Igreja misericordiosa e missionária, uma Igreja próxima, capaz de aquecer os corações, como Jesus aqueceu os corações dos discípulos desesperançados de Emaús. Papa Francisco disse: ‘Padres completamente limpos e bonitos, longe e afastados da vida das pessoas, não ajudam a Igreja’. Jesus gostava de pisar o mesmo pó que sua gente pisava. O caminho da Encarnação de Deus, a vida de Jesus Sacerdote, bom Pastor, é a vida a ser seguida pelo Ungido por Deus, discípulo missionário. O belo disso é a certeza de que esta vida de doação e de entrega ressuscita; esta é a vida da glória de Deus. Esta é a glória ressuscitada de Deus e será nossa glória. Outra glória, em Deus, não existe: quem quiser salvar sua vida, este deve perdê-la. A vida de Deus, a vida que ressuscita, a vida da glória, esta nos é dada, por vocação. Assim, como Cristo, os Padres, em cada Celebração Eucarística, proclamam seu programa de vida: “Tomai e comei: é o meu corpo dado por vós. Tomai todos e bebei: é o meu sangue derramado por vós”. Nós não nos pertencemos mais! Somos de Deus e, Nele, da Igreja, da missão da Igreja, à serviço do povo de Deus. Somos auxiliares do próprio Deus, sustentáculos dos membros vacilantes de seu corpo inefável.

4. Caros Padres, com o ministério sacerdotal, Deus Se confia a nós; mesmo conhecendo nossas fraquezas, considera-nos capazes de agir e de ser presentes em Seu lugar. Papa Bento diz: Esta audácia de Deus é a dimensão grande que se esconde na palavra sacerdócio. Por isso, celebremos com reverência o verdadeiro sacrifício do santíssimo Corpo e Sangue do Senhor nosso Jesus Cristo, puros, com intenção santa e reta, desejando agradar somente ao mesmo sumo Senhor.

5. Que, por intercessão de Maria Santíssima, Mãe dos Sacerdotes, Deus Pai renove em nós o Espírito de Santidade com que fomos ungidos, em vista da missão. Que o nosso povo sinta que somos discípulos do Senhor; que possa receber, através das nossas palavras e obras, o óleo da alegria que nos veio trazer Jesus Cristo, o Ungido do Pai, no Espírito Santo.

6. Amados irmãos e irmãs, permanecei unidos aos vossos sacerdotes, com afeto e oração para que sejam sempre Pastores segundo o coração de Deus.

 

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!