Quarta-feira de Cinzas 2018 – Abertura da Campanha da Fraternidade
Iniciamos, hoje, a quaresma. São 40 dias. É tempo de voltar para Deus e para os irmãos. Não há amor a Deus sem amor ao próximo. Não há conversão a Deus que não seja conversão aos irmãos.
Ao Senhor nosso Deus agradam nossos esforços e boas ações na implantação do Reino. Seremos sempre recompensados, mesmo que seja pelo simples fato de oferecermos um copo d’água a um sedento. Jesus, contudo, nos adverte: nada de agir com a intenção de sermos aplaudidos pelos homens. Uma prece, uma ação em relação ao próximo, um esforço de mortificação, tudo isso tem em si grande nobreza, a tal ponto que o Pai quer nos recompensar; somente Ele, livre e sincero, á capaz de recompensa tão elevada.
Jesus deseja sempre algo mais e melhor para nós, por isso nos previne de buscas pequenas, medíocres que favoreçam a nós mesmos.
Em particular, durante a Quaresma, somos convidados a fixar nosso olhar em Jesus. É Ele, sua vida, suas atitudes, seu jeito de estar entre as pessoas e de transformar vidas, que nos contagia e nos ensina a fazer o mesmo. Ele faz redescobrir em nós aquela força adormecida que tem nos desviado do ideal do discípulo, conforme propõe o Senhor. Vale a pena olhar o rosto de Jesus e ver como Ele nos faz livres! Agrademos a Deus e não aos homens.
Escutemos as palavras: Jejum, esmola e oração.
Jejum, o que é? É uma oportunidade para estarmos em comunhão com Jesus e com os irmãos mais necessitados privados de bens, de dignidade, de vida. O jejum nos revela que somos mais que alimento. É uma relação profunda conosco mesmos. Perguntemo-nos: Que tipo de jejum o Senhor me chama a fazer nesta quaresma?
Esmola: não é oferecer ao outro o que me sobra, ou o que é de qualidade inferior. Esmola é partilhar do que o outro necessita. É nossa relação com o outro. Lembra Eclesiástico: “A água apaga a chama, a esmola expia os pecados”. Perguntemo-nos: qual a esmola que o Senhor me convida a doar nesta quaresma?
Oração: oração é diálogo com Deus. Não é apenas dizer palavras, ou um exercício piedoso. É dizer e escutar. É alimentar uma relação profunda com o Deus de Jesus Cristo. Aquele que nos ama incondicionalmente. É nossa relação com Deus. É uma espécie de exposição ao dom recebido na tentativa de ser atingidos com maior intensidade pelo amor e pela misericórdia. Perguntemo-nos: como este exercício poderá me ajudar a ter uma atitude mais orante?
Para viver a dimensão comunitária e social do Evangelho, a Igreja no Brasil realiza ao mesmo tempo a Quaresma e a Campanha da Fraternidade. Neste ano, o tema da Campanha é “Fraternidade e superação da violência”, e o lema: “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23,8).
O objetivo da Campanha deste ano é: “Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”. O foco é superar a violência. Como há violência! Como somos violentos! A ética que norteava as relações sociais está esquecida. Hoje temos mentira, jogo do mercado, roubos provados e filmados (e nada acontece), corrupção, morte e agressividade nos gestos e nas palavras. Será que Jesus ensinou o impossível? Será que ele mentiu quando disse ‘Vós sois todos irmãos’? Creio, cremos que a paz é possível, mas com justiça e reconciliação. A Palavra de Deus ensina: ‘Justiça e paz se abraçarão’ (Sl 85,10). A paz é fruto da justiça e não do armamento.
Nós somos os artífices da paz, os fazedores da fraternidade, de vida fraterna, de vida familiar. Cremos que Deus – que é amor – nos criou à sua imagem e semelhança. Cremos que Jesus não errou e não erra. E Ele nos diz: “Vós sois todos irmãos”. E Ele nos envia para sermos ‘sal da terra e luz do mundo’.
Maria, Mãe do Príncipe da Paz, nos acompanhe no caminho de conversão quaresmal. Que Jesus Cristo nos ajude no caminho da superação da violência, pois ‘somos todos irmãos’.
Abençoada Quaresma, caminhada à Páscoa do Senhor.
Dom João Inácio Müller,ofm
Bispo diocesano de Lorena SP