Neste mês dedicado as missões, queremos partilhar a experiência de missão que Pe. Ademir Costa realizou na Ilha do Marajó. que sejamos contagiado por seu testemunho missionário!
Partilha de Pe. Ademir Costa sobre experiência missionária na Amazônia (Parte I):
No meu período de descanso em janeiro, dediquei 14 dias para fazer uma experiência missionária na Ilha do Marajó. Pois sempre me senti tocado pelos apelos de Dom José Luís Azcona pedindo missionários para aquela região. Impulsionado pela minha ordenação diáconal senti que era o momento de fazer a experiência.
Fui acolhido pelos missionários e inserido na Missão Marajó da RCC. Lá não existem estradas, tudo é de barco… E sempre viajando de barco vivenciando a realidade do povo, ou seja,dormindo em redes, comendo suas típicas comidas, vivendo nos seus costumes e cultura local. Enfrentando as marés e tempestades nos grandes rios e baías, presenciando a rotina de vida de um povo simples e muito acolhedor, que vive regido pelas das águas dos grandes rios. Assim, mergulhei na realidade da quele povo.
Cruzei todo o Marajó.Foram 12 horas de Belém à cidade de Breves, onde fiquei três dias.E depois enfrentamos 16 horas de barco de Breves a Macapá, passamos rapidamente por Macapá, e seguimos de lancha por duas horas de Macapá para Afuá, onde permaneci por oito dias.
Fiquei com os missionários da Missão Marajó que fazem um lindo trabalho social nos lugares mais miseráveis de Breves e Afuá, tirando as crianças das ruas e da exploração sexual, educando-as e formando-as com o projeto Anjo da Guarda, no qual atendem mais 200 crianças e suas famílias em cada cidade com escola de artesanato, música, danças,aulas de padaria, reforço escolar, informática, biblioteca, brinquedoteca, dentistas e médicos – quando aparecem voluntários especialistas de outros lugares do Brasil. Também distribuem sopões para o povo que passa fome. Estes missionários, guiados pela Divina Providência, construíram também uma linda Igreja na área mais pobre de Breves, e ainda criaram uma central de tratamento de água para o povo, pois por incrível que pareça, falta água tratada para a população mais pobre.Na cidade de Afuá, construiu-se um lindo e grande espaço de acolhida e formação humana.
Um lindo trabalho de missionários que trabalham sozinhos–quando estive com eles eram apenas três em Breves e dois em Afuá – é perceptível o milagre que acontece através destes servos de Deus que trabalham no silêncioe com a graça de Deus que lhe envia alguns voluntários para fazer o trabalho acontecer.
Vivenciei também uma realidade de Igreja necessitada de missionários. Uma situação muito difícil no qual os poucos padres, além de cuidar de suas paróquias, tem que dar a assistência social e jurídica ao povo que está abandonado pelos poderes públicos. No qual enfrentam profundos desafios de pobrezas e exploração sexual de menores.
No Marajó, cada pároco, além de suas comunidades “urbanas”, possui ainda mais de cem comunidades ribeirinhas para dar assistência pastoral e sacramental. Algumas comunidades estão a seis horas de barco da cidade. Muitas destas comunidades têm a Missa apenas uma vez ao ano, quando o padre passa em visita pastoral. Por exemplo, o Pároco de Afuá, que geralmente não tem vigário, fica de dois a três meses nos rios com o barco paroquial para conseguir visitar todas as suas comunidades ribeirinhas.Enquanto isso, os leigos cuidam de toda realidade paroquial.
Visitamos algumas comunidades ribeirinhas, uma experiência inesquecível em tocar em uma realidade de fé genuína de um povo que recebe a
Eucaristia poucas vezes ao ano. O seu alimento é a celebração da Palavra aos domingos. Fiquei estabelecido alguns dias em uma comunidade
ribeirinha bem distante da cidade. Fui à casa de muitos ribeirinhos sempre com uma pequena canoa motorizada. “Eu que pensei ir evangelizar, fui evangelizado por aquela gente…”. Um povo acolhedor, simples, pobre, humilde e de uma fé muito viva. Eles moram a beira dos rios em casas de madeiras simplíssimas construídas em cima de palafitas, muitas se quer têm portas e janelas, sem energia elétrica. Vivem daquilo que o rio e a mata lhes concede – peixe, camarão, caças, frutas e açaí…Em nenhuma casa que passamos encontramos murmuração e tristeza, mesmo diante de sua pobreza, sofrimentos e enfermidades, demonstravam alegria e um coração agradecido a Deus “por tudo que tinham”. E não tinham quase nada…Meu Deus, que tapa na minha cara! Deus falou comigo através daquele povo…
Eu vi em janeiro, 14 dias de encontro pessoal com Jesus Cristo nas águas do Marajó. Deus me converteu, tirou-me do comodismo, lapidou minha pobreza, mexeu com meu ministério… Ainda estou ruminado tudo o que vivi… Testemunho aqui que fiz uma das maiores experiências de minha vida. As palavras não conseguem descrever toda realidade da Igreja no Marajó. É preciso ir e ver para acreditar!
De minha parte eu só posso dizer que: “Eu vi o Senhor na Ilha de Marajó. Eu que pensei ir evangelizar fui evangelizado por aquela gente simples e pobre, mas cheia de Deus…”.
Padre Ademir Costa
Diocese de Lorena/Comunidade Canção Nova
Confira também: Partilha sobre experiência missionária na Amazônia (Parte II)