Partilha sobre experiência missionária na Amazônia (Parte II)

 Partilha  de Pe. Ademir Costa sobre experiência missionária na Amazônia(Parte II)

pe-ademirEm janeiro fiz uma inesquecível experiência missionária na Ilha do Marajó como diácono.Tendo uma profunda experiência com Deus através daquele povo nas águas da Amazônia, escolhi o meu lema sacerdotal:“Dai-lhes vós mesmos de comer.” (Mt 14,16). Desta maneira, prometia Deus e àquele povo voltar para celebrar minha primeira semana de padre com eles.

Assim, o fiz!Depois da minha ordenação, parti para Belém, e de lá segui no final de noite para Macapá. No dia seguinte fui para o porto no Rio Amazonas e embarquei para Afuá, foram mais de duas horas e meia de lancha até chegar em Afuá, a chamada Veneza marajoara, pois é toda construída em cima de estacas, na qual não tem veículos motorizados, é tudo de bicicleta. Alífui, mais uma vez, acolhido pelos irmãos da Missão Marajó da RCC. Nesta missão são três missionários nesta casa – Virtes Romani, Renata Daiane e Daniel Félix. Fiquei alojado na casa de missão.

O Padre Manoel Nunes, pároco de Afuá, que cuida sozinho das comunidades urbanas, e de quase cem comunidades ribeirinhas, me acolheu e designou-me a assumir as celebrações na Matriz e nas comunidades da cidade em seu pequeno período de ausência, pois precisava sair para o interior – comunidades ribeirinhas – para celebrar algumas missas.

Em Afuá, celebrei muitas Missas nas diversas comunidades da paróquia, atendi muitas confissões, um povo muito simples, generoso e acolhedor. Uma alegria foi celebrar na festa local de Nossa Senhora de Nazaré bem na periferia da cidade, tudo muito simples, uma fé muito viva em Nossa Senhora. Nestes dias, ainda preguei em grupo de oração;tive a oportunidade de estar junto no Projeto Anjo da Guarda que cuida das crianças carentes desta parte miserável da cidade, tirando-as das ruas e preservando-os de uma vida de tráfico, abusos e prostituição; e ainda celebrei no Centro de Acolhida São Felipe Neri onde acontecem vários trabalhos para acolher as crianças e as famílias mais pobres da cidade. Visitei ainda muitas casas, e me deparei com realidades duríssimas de miséria: fome, pobreza, falta de água tratada e total esquecimento dos poderes públicos…Por fim, vivi minha primeira semana de sacerdócio na Amazônia, fiquei poucos dias em missão na Ilha do Marajó, mas parece que Deus multiplicou os dias, pois vivi tudo com grande intensidade.

Fiz mais uma vez uma profunda experiência de Deus através daquele povo. Saí de lá, mais uma vez muito mexido, tocado pela realidade e necessidade missionária daquela região e um profundo anseio de fazer algo a mais… O que fazer, eu não sei? Mas como padre preciso fazer algo por aquele povo! A Amazônia grita por nós padres e missionários, grita pela Igreja Católica, não podemos nos fazer de cegos e surdos. Falamos tanto em ir para África, mas tem uma África debaixo de nosso nariz que não queremos enxergar. Além de toda pobreza social, no que diz respeito à fé e a nossa Igreja Católica, existem regiões no Marajó onde os fiéis comungam uma vez por ano, ou ficam até dois anos sem a Eucaristia, existem relatos de pessoas que ficaram até dez anos sem receber a Comunhão, são regiões na qual o padre tem que se deslocar por até 8 a 10 horas de barco, mas sozinho em uma paróquia como conseguirá alcançar a todos, sendo que são quase 100 comunidades por paróquia.

Isso me incomoda, tira-me da minha zona de conforto, instiga-me a sair do meu comodismo e ir a estas gentes. Em janeiro de 2017, mais uma vez tirarei do meu período de descanso, nem que sejam quinze dias, vinte dias ou até mesmo os trinta dias para estar com aquela Igreja… Só posso dizer que me sinto impulsionado e incomodado a fazer algo por aquele povo. Sei que não serei a salvação, mas a “minha gota d’água quero colocar naquele oceano”. Farei isto por amor a Igreja, por amor a este Povo de Deus que tem fome e saudade do Pão da Vida, a Eucaristia.

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Deus te abençoe!

Padre Ademir Costa

Diocese de Lorena/Comunidade Canção Nova

 

Confira também: Partilha sobre experiência missionária na Amazônia (Parte I)