Paz e bênção. Viva São João Batista!
A passagem entre os Testamentos é tempo de silêncio. A palavra tirada ao sacerdócio, que voou do templo…, está se tecendo no ventre de duas mães: Isabel e Maria. Deus escreve a sua história no calendário da vida, fora dos recintos do sagrado.
Zacarias duvidou. Fechou o ouvido do coração à Palavra de Deus, e, desde esse momento, perdeu a palavra. Não escutou, e agora nada mais tem a dizer. As dúvidas do velho sacerdote (igualmente meus defeitos e minhas dúvidas) não param a ação de Deus. E Isabel deu à luz um filho. Os vizinhos alegraram-se com a mãe.
O menino, filho do milagre, nasce como alegre transgressão, vem à luz como palavra feliz, cume de todos os nascimentos do mundo: cada nascimento é profecia, cada menino é profeta, portador de uma palavra única de Deus, pronunciada uma vez só.
Queriam chamar a criança com o nome do seu pai, Zacarias. Mas os filhos não são nossos, não pertencem à família, mas, sim, à sua vocação, à profecia que devem viver e anunciar à humanidade, ao futuro, não ao passado.
O sacerdote cala e é a mãe, leiga, a tomar a palavra. Isabel soube escutar e tem autoridade para falar: ‘Chamar-se-á João’, que significa ‘dom de Deus’ (na cultura bíblica, nome diz a essência e missão da pessoa).
Isabel sabe que esta vida vem de Deus. Ela sabe que os filhos não são nossos, sempre vêm de Deus: trazem centelha de Deus, do infinito, do inaudito. E esta é, igualmente, a identidade mais profunda de cada um de nós: o nome de cada criança é ‘dom perfeito’.
E o pai, finalmente, escreveu: ‘dom de Deus é seu nome’, e a palavra de novo floriu em sua boca. Em seus corações, os pais idosos sentem e sabem que o pequeno pertence à uma história maior. Sabem que o segredo nosso nos transcende.
Zacarias começa a bendizer a Deus. Bendizer é uma energia de vida, uma força de crescimento e de nascimento que desce do alto e se espraia. Bendizer é viver a vida como dom. Assim, a pessoa dá de volta o dom recebido. Isto é agradecer, bendizer.
O que será esta criança? É a interrogação diante de cada nascimento, do amor tornado visível. Esta criança, dom irrepetível de Deus, o que portará ao mundo? Assim também é você e cada um de nós: somos dons únicos e irrepetíveis de Deus para os outros e para o mundo.
Abençoado Domingo e animada festa de São João Batista. Abraço.