Paz e bênção. Uma vida que não se dá não é vida, é já morte!
A vivência cristã intimamente vinculada com Jesus Cristo é participação no dinamismo do amor trinitário; por isso, será honrado pelo Pai. Viver assim e procurar servir e seguir ao Filho resulta permanecer com ele no coração do Pai, em comunhão com o Espírito Santo. Essa entrega da própria vida por amor inscreve-se na perspectiva do grão de trigo que, ao morrer, gera vida e se torna fecundo: Jo 12, 24-26.
O amor e o serviço acarretam sofrimento, cruz, morte. Mas trazem consigo redenção, ressurreição, alegria. Nunca acabamos de aprender a parábola do grão de trigo, que, morto na terra, ressuscita para a vida e a vida em abundância. Jesus está dizendo uma coisa importantíssima: olhem para a cruz, contemplem a minha morte na cruz, olhem para a cruz para descobrir quem sou eu. A cruz, de fato, é a sua glória, o mistério de fecundidade, a vida da semente que morre!
Jesus busca no ‘grão de trigo’ uma luz para iluminar sua vida entregue e sua morte como vida entregue. Ele toma um exemplo da criação para indicar o mistério da nova criação, o grão de trigo mostra a sua força vital não quando está íntegro e formoso na mão do agricultor ou na caixa de alimentos ou em algum vidro na cozinha, mas exatamente quando – pasmem, senhoras e senhores! – quando é lançado na terra e por ela engolido. O destino da semente, que produz conforme a sua espécie, é o mesmo do Filho do Homem. Assim como a semente cai na terra, morre e produz muito fruto, da mesma forma Jesus, levantado da terra e jogado na terra, atrai a si todos os seres humanos e comunica-lhes a sua vida de Filho! Neste mundo marcado pelo egoísmo que mata, a vitória sobre a morte e a comunicação da vida passam necessariamente pela própria morte! Até nisso o amor de Deus e submete aos condicionamentos humanos!
Se o Filho único não comunica sua própria vida aos irmãos e irmãs, fica só. E, ficando só, não seria Filho de Deus, porque não viveria no amor que o Pai tem por todos os seus filhos e filhas. De fato, se não amasse os irmãos e irmãs, perderia sua identidade de Filho. Esta, aliás, é também a nossa situação.
O egoísmo, além de mortal, é estéril, a semente que pretendesse conservar-se ficaria só e deixaria de ser semente, pois não comunicaria vida. É da dinâmica da vida dar-se para ser vida. Uma vida que não se dá não é vida, é já morte! A glorificação do Filho é a mesma da semente que morre. Dando a vida, Jesus se revela igual ao Pai, fonte e princípio de vida para todos.
O egoísta, apegado à vida, se dobra sobre si mesmo, se fecha em seu pequeno mundo e fica definitivamente só. Perde a sua vida, que é saída de si, abertura para os outros, relação com Deus e com os outros. Fazendo outra comparação: quem quisesse segurar o fôlego – para não dá-lo a ninguém – morreria sufocado. Vive-se porque se respira, quer dizer, se inspira (recebendo) e se expira (dando). A vida só circula na medida em que é recebida e dada.
Que São Lourenço, Diácono e Mártir, abençoe a todos, em particular, nosso Diáconos.
Bom dia. Abraço.
Dom João Inácio Müller, fome
Bispo diocesano de Lorena SP