Solenidade de Todos os Santos

santosNesta celebração da solenidade de todos os santos temos a oportunidade como cristãos de refletir acerca do processo cotidiano de santificação. Estou de fato sendo santificado pela vida cristã que tenho vivido? Precisamos afirmar com precisão que a santificação é graça de Deus, mas também tarefa e esforço do homem, ou seja, dom de Deus e correspondência do homem à iniciativa divina. “Procurai a paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor” (Hb. 12,14). Este texto da Sagrada Escritura nos coloca perante uma máxima importante do cristianismo: a santidade não é um privilégio de alguns bem aventurados, mas necessidade e meta de todos os batizados (as), que no seguimento de Cristo caminham rumo à eternidade. Precisamos reconhecer o fato de que vivemos numa sociedade profundamente marcada pela degradação dos valores humanos e até mesmo religiosos. E nesse contexto, a santidade revela-se ainda mais necessária, um apelo urgente para que o testemunho cristão se levante com eficácia e fecundidade. “Vós sois o sal da terra e a luz do mundo” (cf. Mt. 5,13a-14a). A história da Igreja está repleta de exemplos de grandes homens e mulheres, que surgiram no seu tempo como grandes luzeiros perante as trevas da crise e dos erros, com um testemunho marcante de santidade.Mas é preciso reconhecer que a santidade não é fruto apenas do esforço humano, que procura alcançar a Deus com suas forças, e até com heroísmo; ela é dom do amor de Deus e resposta do homem à iniciativa divina” (cf. Missal Dominical, p. 1367).

A santidade é construção de uma vida marcada pela fidelidade nas pequenas coisas, de um cotidiano vivido e celebrado na sinceridade e verdade do amor de Deus. “Aquele que é fiel nas coisas pequenas será também fiel nas coisas grandes. E quem é injusto nas coisas pequenas, sê-lo-á também nas grandes” (Lc. 16,10). Reflitamos nesse dia acerca dessas pequenas coisas da vida, que muitas vezes são desprezadas, em vista das grandes metas a serem alcançadas. Muitas vezes o homem é tentado a pensar apenas naquilo que deseja ardentemente alcançar, deixando de lado as pequenas coisas da caminhada, que poderiam dar-lhe beleza e sentido de santidade na vida. Nenhum objetivo é saboroso e gratificante o suficiente, quando não foi alcançado numa vida construída na santidade das pequenas coisas. “Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?” (Mc.8,36). Acredito que esse constitua um dos grandes desafios de todos os tempos, especialmente para o homem moderno: dar sentido de santidade as pequenas coisas da vida. São as pequenas pérolas adquiridas na vida à caminho, que conferem ao homem sábio e prudente, a capacidade de formar o belo mosaico da experiência de comunhão e união com Deus, que fora edificada cotidianamente. O próprio São Paulo exortou a comunidade dos Efésios à que “vivessem como convém a santos” (cf. Ef. 5, 3). De fato eu tenho sido capaz de separar o joio do trigo? Estou convencido de que a santidade contempla o discernimento acerca daquilo que de fato me convém? Mais uma vez São Paulo ilumina nossa reflexão dizendo: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma” (ICor. 6, 12-13).

“Fica assim evidente que todos os fiéis cristãos de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Por esta santidade se promove também na sociedade um modo mais humano de viver. Para alcançar esta perfeição façam os fiéis uso das forças recebidas segundo a medida da doação de Cristo, para que, seguindo seus exemplos e feitos conformes à sua imagem, obedientes em tudo à vontade do Pai, dediquem-se com plena generosidade à glória de Deus e ao serviço do próximo” (cf. LG.40). O exercício da caridade, na generosidade do coração que em tudo glorifica a Deus e o serviço ao próximo, sem dúvida testemunham a santidade de Deus presente no mundo. A santidade é também exercício cotidiano, luta contra tantas realidades que precisam ser purificadas e transformadas pela graça santificante do Espírito Santo. Ao homem cabe administrar sua liberdade com docilidade e responsabilidade para com a graça que lhe é conferida abundantemente. Podemos, enfim, concluir dizendo que santo (a) é a pessoa que aberta a graça de Cristo e vivendo na docilidade à ação do Espírito Santo, deixa-se conquistar pelo seu amor. Pois, a liberdade e a correspondência incondicional à graça, de modo constante e crescente, apesar da finitude e fraqueza humana, constitui o terreno fecundo para que a pessoa conforme-se à vontade salvífica de Deus. Devemos caminhar na certeza e convicção de que “… a cada um de nós foi dada a graça na medida do dom de Cristo” (Ef. 4,7). E que sendo Cristo o modelo do homem perfeito totalmente obediente ao Pai, a santidade também significa tornar-se mais e mais humano, no sentido de ir conformando-se ao projeto amoroso de Deus Pai Criador.

 

 

Que o Deus Justo e Santo,

vos abençoe abundantemente com toda sorte de bênçãos e graças do céu! Amém!