A semana santa é sem dúvidas um dos tempos mais privilegiados do ano litúrgico. Desde o domingo de ramos até o domingo de páscoa, os acontecimentos principais do mistério da paixão e morte de Jesus são postos diante dos nossos olhos através de celebrações, ritos e sermões que chamam a nossa atenção para os gestos de Jesus que se doa amorosamente por cada um de nós.
É costume em muitas comunidades do Brasil, realizar durante a semana uma procissão chamada “Procissão do Encontro” onde se faz memória o suposto encontro de Jesus com sua mãe, a Virgem Maria no caminho do Calvário, conforme consta na quarta estação da via sacra. Sempre me impressionou muito esta cerimônia e por diversas vezes me emocionei ao presenciar a chegada das imagens de Nosso Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores, para o sermão da dor de Maria feito pelos diáconos e sacerdotes com eloqüência e profundidade. Acho que isto se deve ao fato, de que a Semana Santa, é sem dúvidas um tempo de encontro e transformação.
No caminho do calvário, os encontros de Jesus provocam transformações. Ele se encontrou não só com sua mãe, mas segundo a tradição se encontrou também com uma mulher que lhe enxugou o rosto, popularmente batizado como Verônica, depois com Cirineu que o ajudou a levar o pesado madeiro e por fim o encontro com as mulheres que pesarosas, choravam a dor do Messias, que caminhava para a morte.
No encontro com Maria, a transformação acontece no coração dela, pois o olhar do Filho assegura-lhe a certeza de que agindo no silêncio e obediente ao Pai, assim Ele renovava todas as coisas, no encontro com Verônica a mesma coisa, a toalha que ela lhe oferece fica estampada com a face dele coberta de sangue. Também Cirineu, sem dívidas teve seu coração transformado ao sentir o toque das mãos úmidas de sangue e contemplar os olhos tristes, mas fixos do Senhor, que desejava enfrentar as duras provas do seu amor por nós, levando-o as últimas conseqüências. O encontro com as mulheres não é diferente, Jesus já sem forças encontra razões e palavras para fazê-las compreender o sentido da sua dor e assim se conformarem com o que viam.
A pedagogia da Igreja, nos apresenta a Semana Santa, como uma oportunidade ímpar de vivermos também estas experiências vividas por Maria, Verônica, Cirineu e as mulheres que choravam a beira do caminho. Uma possibilidade de encontro com o Senhor, por meio do caminho de sua vida dolorosa, desde a sua entrada em Jerusalém até o domingo da sua vitória sobre o pecado e a morte. Por isso, esforcemo-nos em preparar o nosso coração e busquemos viver com empenho este tempo de encontro com a pessoa do crucificado, que irá ressuscitar, permitindo a Ele que nos enxergue, nos console e nos acalme, assim como o faz com as mulheres que estiveram com Ele a beira do caminho e busquemos também nos solidarizarmos com Ele, sendo próximos dele como foi o Simão que vinha de Cirene. O olhar de Jesus nos atrai e o encontro com Jesus nos transforma. Que a semana santa nos ajude a viver este encontro e neste espírito celebremos de um modo novo a páscoa do Senhor, que nos renova e vivifica.