Desde o século III que a Liturgia une na mesma celebração as duas colunas da Igreja, Pedro e Paulo. Mestres inseparáveis de fé e de inspiração cristã pela sua autoridade, simbolizam todo o Colégio Apostólico. Pedro era natural de Betsaida, onde exercia a profissão de pescador. Jesus chamou-o e confiou-lhe a missão de guiar e confirmar os irmãos na fé. É uma das primeiras testemunhas de Jesus ressuscitado e, como arauto do Evangelho, toma consciência da necessidade de abrir a Igreja aos gentios (At 10-11). Paulo de Tarso, perseguidor acérrimo da Igreja, converte-se no caminho de Damasco. A partir daí, a sua vivacidade e brilhantismo são postos ao serviço do Evangelho. Fortemente apaixonado por Cristo, percorre o Mediterrâneo para anunciar o Evangelho da salvação, especialmente aos pagãos. Depois de terem sofrido toda a espécie de perseguições, ambos são martirizados em Roma. Regando com o seu sangue o mesmo terreno, “plantaram” a Igreja de Deus.
A Primeira leitura – Atos, 12, 1-11 – mostra que pelos anos 41-44 da nossa era, reinava na Judeia Herodes Agripa, que moveu uma perseguição contra a Igreja. Foi por essa ocasião que Pedro foi preso, durante a Páscoa hebraica, e teria a mesma sorte de Jesus, se Deus não tivesse intervindo com um milagre (vv. 1-4): um anjo libertou Pedro da morte certa. Tal fato deixou os cristãos espantados e admirados com a benevolência de Deus. No evento foi importante a oração da Igreja, compenetrada da importância única da missão de Pedro. Mais tarde, também São Paulo recuperará, de modo idêntico, a sua liberdade (At 16, 25-34). A fiel testemunha de Jesus é sempre alguém que questiona quem se encontra bem instalado, sem receio de provocar-lhe a ira. A Igreja está unida aos perseguidos e reza por eles; assim recebe de Jesus força para superar os desafios e enfrentar as perseguições. Deus sempre providencia um anjo para encorajar os seguidores de Jesus e ajudá-los a superar o medo.
Na Segunda leitura – 2 Timóteo 4, 6 – este texto apresenta-nos o que podemos chamar o testamento de Paulo. O Apóstolo pressente próxima a sua morte e dá-nos a conhecer o seu estado de espírito: sente-se só e abandonado pelos irmãos, mas não vítima, porque a sua consciência está tranquila e o Senhor está com ele. Guardou a fé e cumpriu a sua vocação missionária com fidelidade. Compara-se à libação derramada sobre as vítimas nos sacrifícios antigos. Quer morrer como viveu, isto é, como verdadeiro lutador, uma vez que se entregou a Deus e aos irmãos. A vitória é certa! As suas palavras são já um cântico de vitória, porque está próximo o seu encontro com Cristo Ressuscitado. São Paulo, ao fim de sua caminhada, com a iminência do seu martírio, faz um balanço da própria vida e reconhece que fez o bem, que cumpriu o seu “dever” e agora está preparada para ele “a coroa prometida pelo Senhor!”, ou seja, a vida junto de Deus.
No Evangelho – Mateus 16, 13-19 – o trecho hodierno consta de duas partes: a resposta de Pedro acerca da messianidade de Jesus, Filho de Deus (vv. 13-16) e a promessa do primado que Jesus confere a Pedro (vv. 17-19). O povo reconhecia Jesus como um profeta. Mas os Doze têm uma opinião muito própria, que é expressa por Pedro: “Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo” (cf. v. 16). Essa opinião, mais do que baseada na experiência que tinham de Jesus, era fruto da ação do Espírito neles: “não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu.” (v. 17). Por causa desta confissão, Pedro será a rocha sobre a qual Cristo edificará a sua Igreja. A Pedro e aos seus sucessores é confiada a missão de serem o fundamento visível da realidade invisível que é Cristo Ressuscitado. O poder de ligar e desligar, expresso na metáfora das chaves, indica a autoridade sobre a Igreja.
Os apóstolos de todos os tempos são responsáveis por manter a Igreja unida, no seguimento do Mestre. A confissão de Pedro é compromisso assumido por todos o que se diem seguidores de Jesus. A pergunta dirigida aos apóstolos também é dirigida a cada um os que se consideram cristãos: Quem é Jesus para nós?
São Pedro: O Apóstolo Pedro era um pescador da Galileia. Passava os dias no lago de Tiberíade, com o seu pai Jonas e com o seu irmão André. O seu trabalho consistia em lançar as redes, esperar, retirá-las e, depois, à tarde, remendá-las, sentado na margem. Foi aí que, uma tarde, quando lançava as redes para uma última pescaria, ouviu, com o seu irmão, o chamamento de Jesus que passava: “Segui-me; farei de vós pescadores de homens” (Mc 1, 17). Começou, assim, a sua extraordinária aventura; seguiu o Mestre da Galileia para a Judeia; daí, depois da morte de Jesus, percorreu a Palestina, até se mudar para Antioquia e, daí, chegou finalmente a Roma. Em Roma animou a fé dos crentes, esteve preso, e foi morto no Vaticano, onde ficou para sempre, não só com o seu túmulo, mas também com o seu mandato: ficou naqueles que lhe sucederam naquela que os cristãos chamaram sempre “a cátedra de Pedro”, até ao Papa que hoje governa a Igreja. Nele, Pedro continua a ser “a rocha”, sobre a qual Cristo continua a edificar a sua Igreja, o sinal da unidade para “aqueles que invocam o nome do Senhor”.
São Paulo: São Paulo fala que foi zeloso no judaísmo e perseguidor da Igreja –, a seguir lembra que sua vocação é de origem divina, assim como o Evangelho por ele pregado. É importante destacar a mudança de vida do apóstolo: de perseguidor torna-se defensor do projeto de Jesus. Sempre é tempo de transformar a vida para melhor, deixando para trás o que não é da vontade de Deus. Não muito longe de Pedro, repousa Paulo que, de perseguidor, se tornou o Apóstolo dos Gentios, o missionário ardoroso do Evangelho. O seu martírio revelou a substância da sua fé. A evangelização das duas colunas da Igreja apoia-se, não sobre uma mensagem intelectual, mas sobre uma práxis profunda, sofrida e testemunhada com a palavra de Jesus.
Reafirmamos na celebração dos Apóstolos Pedro e Paulo nossa adesão a um vivo e autêntico testemunho de fé na Igreja “una, santa, católica, apostólica”. Pedro é, efetivamente, a pedra que se apoia diretamente sobre a pedra angular que é Cristo. Pedro, e Paulo são os últimos elos de uma corrente que nos liga a Jesus. Celebrando Pedro e Paulo celebramos os “fundadores” da nossa fé, os genearcas do povo cristão. Ambos foram martirizados em Roma, na perseguição de Nero, por volta do ano 64 d. C.
O lugar de Pedro e dos seus sucessores não é um cargo honorífico ou uma recompensa de méritos. É um serviço, o serviço de apascentar as ovelhas do Senhor: “Apascenta as minhas ovelhas”, disse Jesus (Jo 21, 15ss). Com o dever de dar testemunho d’Ele, Jesus confiou a Pedro a sua própria missão de Servo e Pastor. Testemunha de Cristo, pastor e servo dos crentes são prerrogativas que, de Cristo passaram a Pedro e, de Pedro, aos seus sucessores, os bispos de Roma.
Por isso neste final de semana é tempo forte de rezar pelo Santo Padre o Papa Francisco, sucessor de Pedro, para que Ele, que o confiou uma tal missão, o ilumine e o torne, cada vez mais, capaz de confirmar na fé os seus irmãos.
Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)
Fonte: CNBB