Paz e bênção. Perseguições, quem não as têm?
A sorte dos discípulos não é diferente da sorte de Jesus Jo 15, 18-21. O caminho do amor e do serviço provoca, tantas vezes, ódio e violência. O mundo gostaria que fizéssemos o seu jogo; negando-nos a isso, o mundo nos odeia, nos persegue, nos elimina. O servo não é maior que o seu senhor! A comunidade cristã não é maior que Jesus! A cruz nos espera. O mal que fazemos, os outros o pagam; o bem que fazemos, nós o pagamos. Nenhuma boa ação permanece sem recompensa!
A comunidade cristã não deve temer. É chamada a viver ‘no’ mundo sem ser ‘do’ mundo (17,14-16: relações de medo e de egoísmo). Rompe assim a sua lógica de violência e de morte, reconhecendo no Deus de amor e da vida o princípio do próprio existir.
Quem, injustamente, sofre hostilidade, se sente perdido. Parece-lhe que viaja na contramão. Mas o Espírito lhe testemunha que está na verdade e o torna capaz de testemunhá-la. Por isto é uma graça, para quem conhece o Senhor, sofrer injustamente (1Pd 2,19). Se a comunidade cristã não experimenta dificuldade, deve se preocupar muito. Encontra-se numa paz perniciosa, resultado de barganha com o poder mundano. O perigo não é a hostilidade do mundo, mas as suas lisonjas, que fazem cair na mundanidade. Não que alguém deva procurar perseguições. Seria estulta imprudência ou pior. Mas não se pode também procurar de todas as formas evitá-las. Seria trair o amor da verdade e a verdade do amor, tornar-se sal sem sabor, que não serve para nada (Mt 5,13).
Quem realiza o bem se atrai o ódio, talvez também perseguições. O mundo, de fato, ama aquilo quem é seu (v.19); odeia ao invés, tudo aquilo que lhe mostra a sua brutalidade e vazio. O discípulo sabe que “amar o mundo é odiar a Deus” (Tg 4, 4). Reconhece que o acúmulo de riqueza produz pobreza espiritual e material, que a procura de vanglória despreza a autenticidade, que a sede de domínio suprime a liberdade própria e a dos outros. Estas coisas, que o mundo tanto ama a ponto de se tornar um princípio do próprio agir (cf. 1Jo 2,16), não é senão a perversão dos desejos mais profundos do homem. Prometem vida, mas dão morte; destroem a humanidade do homem e lhe escavam dentro um vazio sempre maior. Quem vive no amor e na partilha, na verdade e na liberdade do serviço recíproco, é como luz que dissipa as trevas. Por isto as trevas o odeiam. Os verdadeiros cristãos não são odiados porque se marginalizam e agem mal (cf. 1Pd 4,16). São, ao invés, odiados porque fazem o bem, marginalizados, porque invertem os critérios sobre os quais o mundo se rege. O homem é chamado a ser não como lobo, mas como Deus nos relacionamentos com os outros homens. E isto acontece no testemunho de um amor que não exercita violência, nem mesmo quando lhe toca carregá-la. Não se deixa vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem (Rm 12,21). O bem vence perdendo e o mal perde ganhando.
Bom dia. Abraço.