O clamor dos pobres nos envolve, perfurando o silêncio.

Gostaria de compartilhar com vocês uma breve, mas profunda reflexão, inspirada na primeira leitura da liturgia da missa de hoje, extraída de Provérbios 21,13. “Quem tapa os ouvidos ao clamor do pobre também há de clamar, mas não será ouvido.” Essas palavras ecoam profundamente, trazendo à tona uma verdade inegável e dolorosa. Não estamos diante de uma visão política, mas sim de um chamado bíblico, onde a sabedoria do Antigo Testamento se une à luz reveladora do Novo Testamento.

O clamor dos pobres nos envolve, perfurando o silêncio. É impossível ignorar a dor estampada no rosto de tantos, basta olhar ao redor. O mundo é palco de tanto sofrimento: desigualdades gritantes, fortunas concentradas nas mãos de poucos enquanto a grande maioria sobrevive com quase nada, com o mínimo do mínimo.

No Brasil, essa realidade perdura. A injustiça social se espalha como uma sombra implacável, negando dignidade àqueles que tanto lutam. O abismo entre ricos e pobres se aprofunda, e o trabalhador, que deveria ser celebrado e valorizado, é constantemente subestimado. Falta o reconhecimento da força de trabalho, e é urgente uma verdadeira redistribuição de renda. A sociedade precisa enxergar que cada vida importa, e que ninguém deve ser deixado à margem.

Mas não podemos perder a esperança. Na Palavra de Deus, encontramos a força e o consolo para persistir. Cristo, que ouviu e atendeu ao clamor dos mais necessitados, nos ensina que a justiça de Deus não falha. Ainda que pareça distante, ela vem. Confiemos, pois, na promessa de Deus. Quem clama pela verdade, pela justiça e pela paz será, sim, ouvido por Aquele que nunca deixa de escutar o coração dos Seus filhos.

Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias

Bispo da Diocese de Lorena/SP