Paz e bênção. Não rejeitemos Cristo. Seu amor é gratuito.
A rejeição dos enviados de Deus em Israel é sinal da rejeição permanente de conversão, e fechamento sobre si mesmo – Lc 11, 47-54. Seja: parar de levantar os olhos e coração para olhar, escutar e seguir as orientações do Pai. Explica-se assim a menção do primeiro assassinato da Bíblia: Abel morto por Caim.
Jesus é rejeitado. O homem se basta. Ele não precisa da guia de Deus; não tem sensibilidade para o Enviado; não acredita que a Palavra dos Profetas possa vir a ser cumprida; não acolhe as surpresas de Deus e os seus milagres. Por isso, e assim, Jesus é rejeitado.
O fato de Jesus “ser levado para o Céu” (Lc 9,51) é causado pela rejeição da Humanidade. Apesar disso, o Filho permanece fiel ao projeto do Pai, e continua a caminhada de amor que O levará à situação humanamente absurda da Cruz. Jesus transforma a Cruz, ápice da rejeição, em lugar de topo do amor de Deus pela Humanidade, e o Seu dom torna-se perdão.
A partir da Cruz, o Filho pode conceder o perdão de Deus, que naquela condição Se revela incondicional, salvando eficazmente quem confia Nele, mesmo que se trate dum malfeitor que partilha o mesmo suplício da cruz.
Em Cristo, Deus ama e nos acolhe incondicionalmente. Cristo não nos revela uma divindade que deve ser conquistada com as nossas prestações. O Deus de Jesus Cristo é Aquele que nos ama incondicionalmente, que está disposto a arriscar a vida do próprio Filho, para Se colocar ao lado de uma Humanidade necessitada, e aceitar uma rejeição violenta e absurda, para afirmar o Seu projeto de amor, que não se detém diante de coisa alguma.
São Paulo nos fala da sua experiência e da nossa Fé: ‘todos se tornam justos gratuitamente pela sua graça’ (Rm 3,24), isto é: todos usufruem da possibilidade da relação com o Deus justo em virtude da Sua gratuidade incondicional, demonstrada no acontecimento de Cristo.
A nossa adoção de filhos e a remissão dos nossos pecados são sempre atribuídas ‘ao desígnio da Sua vontade’ e à ‘riqueza da Sua graça’ (Ef 1, 6-7). A nossa vida de fé é relação com um Deus que, em Cristo, nos demonstrou amor incondicional e gratuito. Alimenta-se de uma vida de oração, pessoal e sacramental. A oração cristã não é meditação que encontra o próprio ‘eu’, mas encontro com um ‘Tu’ que nos chama a uma relação interpessoal, na qual experimentamos a ‘riqueza da sua graça’, e trazemos à nossa consciência essa dimensão fundamental da nossa fé.
Bom dia. Abraço.
dom João Inácio Müller, ofm.
Bispo diocesano de Lorena SP