Paz e bênção. Jesus ama Judas e dá a vida por ele.
A distância entre não ajudar os pobres e ser ‘Judas’ é pequena. Ontem (Jo 12, 1-11), tivemos o gesto de Maria e a palavra de Judas. Espontaneamente nos identificamos com Maria. Será? Quanto gastamos para ungir os pés dos pobres, como fez Maria para Jesus, o pobre?
Hoje, Judas deixa Jesus profundamente comovido – Jo 13,21-33.36-38. Ele come o pão de Jesus. É o filho perdido. Mas é exatamente pelos perdidos que Jesus veio. Judas não quer lavar os pés. Ele não faz parte dos que são chamados bem-aventurados por Jesus, cf. Jo 13,17. Em Judas está representado o ápice do mistério do mal, tragédia do homem e de Deus que o ama: rejeitar o amor do Filho e do Pai significa perder a própria essência de filhos e de irmãos.
A traição de Judas faz pensar na importância de Deus diante da liberdade do homem; sugere a irresponsabilidade do mal. O bem perde diante do mal! Mas João nos mostra que a luz vence as trevas exatamente deixando-se tomar por essa. A fraqueza de Deus é a única força capaz de libertar a liberdade do homem e resgatá-lo da morte.
Judas de Simão Iscariotes representa cada homem, inclusive os judeus e os discípulos. Não é por acaso que seu nome é Judas, que lembra os judeus, e aquele do seu pai é Simão, como aquele de Pedro. Somos todos pecadores, privados da glória de Deus, e justificados gratuitamente por graça (cf. Rm 3,23s).
Jesus veio para salvar o mundo (3,17). A perdição, comum a todos, é o “lugar teológico” da salvação. Na verdade, é impossível salvar quem não está perdido, como é impossível preencher um copo cheio. Que salvação existe se não do inferno?
A luz não supõe as trevas, como o amor não supõe o ódio, nem a vida, a morte, nem a alegria, a tristeza. A salvação, ao invés, supõe necessariamente a perdição.
Não que o mal seja necessário ao bem; mas, como o mal existe, ‘é necessário’ que Deus entre nele para nos encontrar. Para ele a nossa perdição se torna motivo para nos salvar e oportunidade para revelar-se a si mesmo.
Jesus, revelando a traição, não entende denunciar o traidor; oferece-lhe, ao contrário, a sua amizade, embora sabendo que a rejeita. Mostra assim a própria fidelidade ao amigo infiel, na gratuidade de um amor que não conhece condições nem condicionamentos. Jesus ama Judas e dá a vida por ele. O ama e não pode não amá-lo, porque é o amor: é Eu-Sou. Se o tivesse rejeitado pela sua rejeição, seria homem e não Deus (cf. os 11,9): não seria o Filho do Pai, Eu-Sou que salva (cf.v.19).
Por isto a traição de Judas é a glorificação do Filho do Homem como Filho de Deus; e está junto a glorificação do próprio Deus, que nele se revela como amor.
A traição de ‘um dos Doze’ faz sair cada discípulo de sua presunção de se salvar, mas também da angústia de se perder. Faz entender que a salvação é um amor que não se nega nem mesmo a quem o nega. Deus me ama e ama todo homem, mais do que a si próprio, porque é Deus!
Jesus, dando o bocado a Judas, oferece a sua vida ao amigo que o entrega à morte. Se Judas observa a si próprio, se aprofunda na noite: se olha para Jesus, se torna o discípulo que Jesus ama.
Jesus ama Judas e dá a vida por ele, que o trai. Depois de lhe ter lavado os pés, realiza para com ele um ulterior gesto de amor e de comunhão. Justamente na sua rejeição se cumpre a Escritura e se revela a glória: Deus é amor gratuito para todo perdido.
A Igreja se reconhece em Judas, o traidor amado, para no final poder se identificar com o discípulo que repousa no peito de Jesus.
Bom dia. Abraço.