Homilia – SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO 19.06.2014

Eucaristia: sustento para a evangelização e a missão.

corpus-christi-20141. Hoje é festa solene, festa na qual revivemos a primeira Ceia Sagrada. Com um ato público e solene, glorificamos e adoramos o Pão e o vinho que se tornaram verdadeiro Corpo e verdadeiro Sangue do Redentor.

2. O olhar dos crentes concentra-se no Sacramento, em que Cristo se deu totalmente a si mesmo: A Eucaristia, memorial vivo do Sacrifício redentor. Com este memorial a Igreja responde ao mandamento da Palavra de Deus, que também hoje ouvimos na primeira Leitura: “Recorda-te… Não te esqueças” (cf. Dt 8, 2.14). Com nossa vida, somos esta recordação.

Há pouco escutamos, na Carta do Apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto, que ao “receber a comunhão”, entramos em comunhão com a vida mesma de Jesus e no dinamismo dessa vida, que se dá a nós e por nós.

No Evangelho ouvimos: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”. Santo Agostinho lembra que, ao comungar, somos transformados Nele: Cristo nos assimila a si, até que nos tornemos configurados a Ele, membros do seu corpo, uma coisa somente com Ele. Ouvimos ainda: “Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim o que me come viverá por causa de mim”. Sabemos que a vida de Jesus é do agrado do Pai e revela o Pai. Comungando, fazemos realmente comunhão com a sua vida e com a sua missão evangelizadora. E Ele mesmo, pela Eucaristia, será o sustento.

3. A Eucaristia, por conseguinte, enquanto nos une a Cristo, une-nos também aos outros, torna-nos membros uns dos outros. A Eucaristia nos torna uma família, responsáveis uns pelos outros. Daqui, da Eucaristia, deriva, portanto, o sentido profundo da presença social da Igreja, como testemunham os grandes Santos sociais, que foram sempre grandes almas eucarísticas. Quem reconhece Jesus na Hóstia Santa reconhece-O no irmão que sofre, que tem fome e sede, que é forasteiro, nu, doente, encarcerado; e está atento a cada pessoa, compromete-se, de modo concreto, com todos aqueles que estão em necessidade. Da dádiva de amor de Cristo nasce, portanto, a nossa especial responsabilidade de cristãos na construção de uma sociedade solidária, justa, fraterna.

Papa Bento, em 2011, na Festa do Corpus Christi, lembrava que a Eucaristia não é algo mágico: não é só ‘comungar ou adorar’ e pronto. Não. Dizia que comungar é entrar ardorosamente no dinamismo do Filho Bendito, que entregou sua vida para que todos tivessem vida.

4. Na Festa de hoje, o Povo de Deus se reúne ao redor de Cristo, o Sacramento da sua própria Presença, louva-O, canta sua vida e O leva em procissão pelas ruas da cidade. Permanecemos estupefatos e silenciosos, em atitude de contemplação profunda e extasiada. Pois, na Sagrada Eucaristia está realmente presente Cristo, morto e ressuscitado por nós.

5. No Pão e no Vinho consagrados permanece conosco o mesmo Jesus dos Evangelhos, que os discípulos encontraram e seguiram, que viram crucificado e ressuscitado, cujas chagas Tomé tocou, prostrando-se em adoração e exclamando: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28).

Deste pão nos alimentamos para nos tornarmos testemunhas autênticas do Evangelho. Precisamos deste pão para crescer no amor, condição indispensável para reconhecer o rosto de Cristo no rosto dos irmãos. É necessário caminhar “partindo” de Cristo e como Cristo, ou seja, da Eucaristia – dom total de si. Para tanto, como lembra Papa Francisco, é necessário seguimento, comunhão e partilha. A Eucaristia nos ensina a assumir as necessidades dos outros. A Eucaristia é vida que deve ser vivida, praticada: é o sacramento da comunhão, que nos faz sair do individualismo.

6. Como aos discípulos, Jesus diz a nós: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.  Os discípulos tinham pouco, mas partilharam o pouco que tinham. Este pouco, nas mãos do Senhor, saciou a multidão. Esta atitude nos indica que a Eucaristia nos leva a praticar a solidariedade. Nada de ter medo! Devemos nos colocar à disposição de Deus com todas as nossas capacidades. E quantas capacidades e dons Deus nos deu! Essas qualidades e esses dons são de Deus, para o bem meu e o bem de nosso irmãos e irmãs. Nada deve ser guardado para si. O que fica guardado estraga e falta para a outra pessoa. A Eucaristia nos leva a ser instrumentos de comunhão. Assim, e só assim, nossa existência será verdadeiramente Eucarística e fecunda.

7. Na Eucaristia, “somos convidados e incitados a nos oferecer a nós mesmos, nossos trabalhos e todas as coisas criadas” (PO 5). Da Eucaristia, “fonte e ponto culminante de toda a evangelização”, tiramos todos os dias a força e o impulso para a ação missionária e para qualquer forma de testemunho cristão. Daqui nasce a Igreja em saída, como quer nosso Papa Francisco.

Nós que Comungamos, caminhamos pelas estradas do mundo, levando dentro de nós o Corpo do Senhor, como a Virgem Maria no mistério da Visitação. Que Nossa Senhora da Piedade nos ajude a levar e oferecer o melhor a nossos irmãos e irmãs: a Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo que Comungamos e adoramos no Santíssimo Sacramento do Altar.

Deus os abençoe!