Homilia de Dom João Inácio Müller por ocasião do Jubileu de Carvalho, 80 anos de criação da Diocese de Lorena, proferida na Catedral de Lorena no dia 30 de julho de 2017, na celebração festiva das 16h.
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Jubileu de Carvalho – Diocese de Lorena, dia 30 de julho de 2017
A liturgia deste Domingo nos convida a apostar tudo na prioridade das prioridades: Jesus Cristo, o tesouro, a pérola de nossa vida. Nem tudo pode ser recolhido em nosso viver.
Salomão, como ouvimos, para governar, pede a Deus inteligência, sabedoria, discernimento. Todos os que têm a responsabilidade de governar irmãos precisam suplicar de Deus, todos os dias, estes dons. A história nos ensina o quanto precisamos pedir o dom de discernir o bem do mal. Lembremos, porém, a dádiva do Alto precisa de cultivo. Adão e Eva acreditaram poder decidir sozinhos sem precisar da orientação divina. Do mesmo modo Salomão, durante o seu reinado, foi se distanciando do coração de Deus e tornou-se árbitro único do seu futuro e da verdade de suas ações, com resultados desastrosos. Sabemos, no entanto, como lembra São Paulo, que Deus ‘de antemão’ ‘conheceu-nos’, amou-nos, e ‘Predestinou-nos para sermos conformes à imagem de seu Filho’, conhecedores e obedientes à vontade do Pai, sabendo, pelo Espírito, discernir o bem do mal. Por isso, a Palavra de Deus, no livro do Apocalipse, nos exorta e convida a ‘não abandonar o primeiro amor’, nosso tesouro e fulcro do discernimento.
Jesus, hoje, fala-nos do tesouro que é encontrado. No início há a descoberta do valor precioso; o descobridor decide renunciar a tudo, conquanto venha a possuir o tesouro que encontrou.
Jesus dá a entender que o Reino dos Céus, o encontrar Deus ou ser encontrado por Ele, é possível a todos. Paulo, inclusive Paulo, perseguidor da Igreja nascente, foi alcançado por Cristo: foi surpreendido pela Luz, na via de Damasco. Assim, nós poderemos ser surpreendidos por Deus, que, como dizia Tereza d’Ávila, “se move entre as panelas”. Sim, Deus se move entre as panelas, ou seja: no ordinário do nosso viver. Deus, de fato, está no teu campo, está ali onde vives, trabalhas e amas; está ali como um enamorado de normalidade, como um agricultor paciente. Deus nos espera, para Se nos ofertar.
Tesouro e pérola: nomes belíssimos que Jesus escolhe para falar do incomparável tesouro presente na vida do Evangelho.
“Encontrado o tesouro, o homem cheio de alegria vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo”. A alegria é o primeiro tesouro que o Evangelho presenteia, é o movente que faz caminhar, correr e voar. A alegria é a força para decidir-se pelo Reino. Assim, vender todos os bens não é mais um sacrifício de renúncia, pois o tesouro é infinitamente superior. Todo o comportamento muda. Nada é jogado fora, nada é perdido: tudo é apostado. O agricultor e o mercador vendem tudo. Para quê? Vendem tudo para tudo ganhar. Deixam muito, para ganhar mais. Não perdem nada. Investem. Apostam todo o seu viver: apostam-se. De acordo com Jesus, assim reagem os que descobrem o reino de Deus, que é o Evangelho, a pessoa de Jesus Cristo. Contudo, importante é não deixar esta aposta para amanhã. Amanhã já não terei mais a força de hoje. Jesus Cristo é exemplo a ser seguido: constantemente, entusiasmado, Ele vive o seu único tesouro, que é cumprir a vontade do Pai; vive a vontade do Pai cada dia, intensamente, inteiro, nada de si reservando para si mesmo. Jesus vive seu tesouro com sabor e júbilo, com decisão e entrega, quando é aclamado e quando é perseguido. Jesus é íntegro, limpo, coeso. Diz: “Pai, não a minha vontade, mas a tua”; “meu alimento é fazer a vontade do Pai”.
Por isso, ‘amemos todos, de todo o coração, com todo o empenho, com todo o afeto, com todas as entranhas, com todos os desejos e vontades ao Senhor Deus, nosso Tesouro, nossa Pérola. Nada mais desejemos, nada mais queiramos, nada mais nos agrade ou deleite a não ser o nosso Criador, Redentor e Salvador, único Deus verdadeiro, que é o bem pleno, todo o bem, o bem total. Nada, portanto, nos impeça, nada nos separe, nada se interponha entre nós’ (São. Francisco).
Hoje, celebramos o jubileu de carvalho da nossa Diocese de Lorena: aniversário de 80 anos: 1937 – 2017. Nosso hino de louvor e de gratidão sobe aos Céus, com o Sacrifício do Altar. Nesta festa, o presente maior que damos ao Pai é a vida do Seu Filho bendito, que, por amor, se entregou por nós na Cruz. E ainda hoje, ‘e diariamente Ele se humilha, como quando veio do trono real ao seio da Virgem, e vem a nós em aparência humilde; em cada Celebração Eucarística desce do seio do Pai sobre o altar nas mãos do sacerdote’. Ele é nossa vida e salvação.
Neste dia solene, coloquemos sobre o Altar toda a nossa história, também os muitos anos de vida de fé que antecederam à Criação da Diocese. Nossos pais na fé souberam procurar o tesouro escondido no campo; souberam tudo secundar para comprar este campo; souberam criativamente e de mil formas expressar sua fé em Deus e sua devoção aos santos e santas de Deus; souberam, na fé, arriscar o seu viver, firmes e confiantes no aconchego consolador da Senhora da Piedade. Todas as rezas, todas as devoções, todas as procissões, todos os Terços rezados, todas as promessas cumpridas, todas as procissões e vivas, todas as adorações e penitências, todas as festas e agradecimentos, todas as expressões de fé de nosso povo, dos Consagrados, de nossos Diáconos, Presbíteros e Bispos: tudo oferecemos ao Senhor.
Celebrando a festa do jubileu dos 80 anos da Diocese de Lorena, quisera citar todos os que amaram esta terra e gestaram nossa Diocese, um por um, dos menores aos maiores. Como isto é impossível, peço que todos se sintam lembrados, reconhecidos e agradecidos na pessoa de um dos filhos desta terra e desta Diocese. Citarei uma pessoa. Para tanto, sirvo-me do livro confeccionado para este Jubileu: “Diocese de Lorena 80 anos – A fé se faz devoção e habita no meio do povo”, em particular, do belo e apropriado artigo que o Historiador e professor, filho desta terra da Piedade, o senhor Francisco Sodero Toledo escreveu, onde diz:
Há que se destacar na sua criação a figura de um personagem que representou todos os esforços dos leigos para que este sonho se concretizasse. Trata-se do lorenense Conde José Vicente de Azevedo (1859 – 1944).
Ao longo de sua vida, quer residindo na capital paulista, quer em Lorena, foi católico convicto e praticante. Em Lorena realizou obras importantes, sempre ligadas à prática da caridade cristã.
Na década de 30 usou de seu prestígio junto ao episcopado brasileiro para tornar Lorena a sede de uma nova diocese. Para assegurar suas intenções doou, em sua cidade natal (Lorena), diversas propriedades pessoais que passaram a constituir patrimônio da Diocese, como o Palácio episcopal, a Cúria e o prédio para o Seminário menor, além de propriedades menores.
Com este Jubileu, confiamos à Padroeira da Diocese, Nossa Senhora da Piedade, nossos vivas e ais, alegrias e sofrimentos destes anos de fé e piedade, caridade e esperança. Ela saberá entregar tudo e todos ao Seu Filho bendito. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Dom João Inácio Müller, Bispo diocesano