É Quaresma. Tempo de voltar para Deus. Tempo de reconhecer que, muitas vezes, erramos a mira e temos que reencontrar o alvo. O alvo é Deus e os irmãos e as irmãs, suas imagens e semelhanças. Não há amor a Deus sem amor ao próximo. Não há conversão a Deus que não seja retomada da fraternidade. Vamos abrir-nos aos apelos que vêm de Deus e dos irmãos.
Deixemo-nos contagiar pela misericórdia de Deus.
Começamos o tempo quaresmal. Sabemos que a Quaresma, como toda a liturgia, só tem sentido em função da Páscoa. Na realidade, estamos vivendo o grande tempo pascal da Igreja. Quarenta dias de preparação para a festa da Páscoa e, depois, cinquenta dias de celebração da Ressurreição do Senhor e da presença inspiradora de seu Espírito. Estamos, pois, no tempo forte da comunidade cristã. O centro de nossa vida é Jesus Cristo, sua pessoa, sua mensagem, o mistério de sua morte e de sua ressurreição.
O Evangelho, que acabamos de ouvir, ajuda-nos a viver as práticas fundamentais da Quaresma, ou seja: a oração, o jejum e a esmola. Essas três práticas definem a nossa relação com os outros, com Deus e com as coisas. A nossa existência é estruturada por essas três relações fundamentais. Nelas realizamos os projetos de Deus para a nossa vida ou desmoronamos como a casa construída sobre a areia.
Nossas ações podem ser feitas de duas maneiras opostas: ou para nos gratificarmos a nós mesmos, recebermos elogios dos outros, ou para a glória de Deus. Por isso, nossa esmola, nossa oração, nosso jejum devem ser feitos “em segredo”, diante de Deus, não com alarde, para receber glória das pessoas. O bem só precisa de um reconhecimento: o de Deus.
Somos “seres de relação”, e nas relações nos humanizamos. Nosso Mestre e Senhor é Jesus.
Olhando para a Sua vida, o convite é que nos perguntemos: como nos relacionamos com nossos desejos/impulsos (como vivemos o jejum), como nos situamos diante de nossos semelhantes (como vivemos a esmola) e como cuidamos de nossa amizade com o Senhor (como é nossa vida de oração)?
A oração é colocar-nos em sintonia com Deus. Orar nos molda o coração de acordo com o coração de Deus, nos ajuda a ser mais irmãos uns dos outros.
O jejum nos faz descer do pedestal e nos torna mais sensíveis e solidários; é renunciar a um “EU” inflado em favor de um “mundo solidário”. As coisas não são um fim, mas um meio.
A esmola indica o fazer-se companheiro de viagem junto a quantos se encontram em dificuldade, participando com ternura de sua situação. É um estímulo a superar o assistencialismo, que mantém as diferenças, sustenta a dependência e não promove a cidadania. Provoca-nos à solidariedade e ao espírito de compaixão, move-nos ao serviço, ao voluntariado, à prática do bem e da justiça.
Atualmente, no mundo todo – é só acompanhar as preocupações de nosso Papa com as guerras, migrações, desemprego, fome e epidemias, que sinalizam uma Terceira guerra mundial – estamos vivendo momentos difíceis, críticos. A Igreja no Brasil, em sintonia com a encíclica do Papa Francisco, Laudato Si, quer nos despertar para a dura realidade da destruição da “Casa Comum” e da falta de cuidado para com esta nossa “Casa Comum”. Estamos adoentando nosso mundo. Isso tem gerado muito sofrimento e exclusão.
Neste ano, o tema da Campanha da Fraternidade é “Casa comum: nossa responsabilidade” e o lema: “Quero ver o direto brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). Eis o desejo de Deus, pela boca do Profeta Amós. E isso é possível? Sim, é possível! Deus criou-nos e criou a Mãe terra capaz de alimentar todos os seus filhos, e com saúde. Parece-me que nós, pessoas, estamos vivendo contra a lógica da vida: não cuidamos do mundo, nossa casa comum, não cultivamos o jardim de Deus.
O objetivo geral desta Campanha da Fraternidade Ecumênica é “assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenhar-nos, à luz da fé, por políticas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum” (TB, 26).
O saneamento básico é um direito humano fundamental, e requer a união de esforços de todos; inclui os serviços públicos de abastecimento de água, o manejo adequado dos esgotos sanitários, das águas pluviais, dos resíduos sólidos, o controle de reservatórios e dos agentes transmissores de doenças (TB, 32).
Alguns dados para você se sensibilizar, buscar mais informações e criar novos hábitos:
– O maior problema do saneamento básico no mundo, hoje, é a fome;
– Uma criança morre a cada 2,5 minutos, por não ter acesso à água potável, por falta de redes de esgotos e por falta de higiene;
– 18% da população brasileira ainda não tem acesso à água tratada. Mais de 100 milhões de brasileiros não possuem coleta de esgotos;
– no mundo, um bilhão de pessoas fazem suas necessidades ao céu aberto;
– na América Latina, as pessoas têm mais acesso aos celulares do que aos banheiros.
O saneamento básico não é um detalhe na vida. É necessidade imperativa para que nós, filhos de Deus, possamos ter a vida saudável que Deus quer para todos. Por isso, nosso Papa Francisco insiste tanto no direito aos três “T”: terra, trabalho e teto.
A Campanha da Fraternidade 2016 propõe um olhar mais amoroso para o planeta e para a natureza, criando assim uma consciência fraterna e lembrando que nossos recursos são limitados e precisamos cuidar bem deles para que assim possamos viver bem.
Cuidemos do ambiente e das pessoas!
No Domingo de Ramos será feita a Coleta da Solidariedade. Mas, o que foi feito com o gesto solidário da coleta de 2015? 11.000,00 foi para a Pastoral da Criança de nossa Diocese, 11.000,00 foi para a Obra Social da Cecap, Lorena; 11.000,00 para as necessidades da Casa Bethânia, e 6.000,00 para as duas Obras Assistenciais do Pe. Zezinho.
Dom João Inácio Müller, Bispo Diocesano.