A preocupação fundante e central da Igreja é o cumprimento do mandato missionário de Jesus Cristo: anunciar o evangelho. Como dizia Paulo VI, “o anúncio do evangelho é a verdadeira identidade da Igreja, pois ela existe para evangelizar” (EN 14). Os sacramentos são a consequência natural da evangelização, mas sua mistagogia também evangeliza. Destarte, a transmissão de celebrações eucarísticas pelas redes sociais tem seu valor, enquanto instrumento de evangelização. Basta fazer memória do ensinamento do papa Bento XVI: “redes sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização” (2013).
Recentemente, mergulhamos no mundo digital de um modo inédito e num ritmo acelerado, na tentativa de exercer a missão de evangelizar. A pandemia do novo Coronavírus ocasionou o imperativo do isolamento social e, com isso, para estar presente na caminhada do Povo de Deus, tivemos de nos adaptar e reinventar rapidamente. A internet entrou no horizonte de prioridades de nossas ações, oferecendo um novo mundo de possibilidades e nos alertando para o desafio de um novo diálogo de evangelização. Os novos cânones da comunicação telemática e digital despontam como desafio e potencialidade para a nossa missão.
A realidade vivenciada por milhões de pessoas em todo o mundo, com estruturas e linguagens próprias é totalmente tímida para nós que somos Igreja. O universo digital influencia o modus vivendi do homem contemporâneo com força maior que qualquer outro fenômeno da história. A presença eclesial nas mídias digitais é muito modesta e basicamente improvisada. Ainda não possuímos influenciadores digitais voltados para o anúncio da Boa- Nova. Nosso “conteúdo” não é curtido e compartilhado, porque não está satisfatoriamente on-line. O mundo digital é como um “país”, uma nova nação, a ser evangelizada.
O historiador israelita Harari adverte que o grande desafio da contemporaneidade é disrupção tecnológica, especialmente no desenvolvimento da inteligência artificial e da bioengenharia. Esse fenômeno é caracterizado pela evolução tecnológica que rompe e supera as tecnologias existentes. A disrupção digital pode ser positiva, se nos levar a reinventar processos e etapas, facilitando a tomada de decisões e a inteligibilidade de linguagens. As empresas com essa metodologia se comprometem com as novas tecnologias para transformar seus negócios, rompendo sistemas e metodologias tradicionais (Airbnb e Uber). Penso que no contexto eclesial estamos vivendo um tipo de disrupção digital.
Toda a Igreja-viva, particularmente os ministros ordenados, fomos compelidos a entrar abruptamente nesse processo como condição para evangelizar: é desejável que haja frutos, mas, sobretudo, aprendizado. É inadiável aprofundarmos o sentido teológico e a importância pastoral para a nova evangelização, descobrindo o espaço próprio da cultura digital, percebendo os seus processos, conceitos e lógicas. Traduzir em uma nova linguagem a verdade eterna e imutável do amor encarnado de Deus, na dinâmica do acreditar, viver, proclamar e celebrar a fé. A verdade permanece a mesma no decorrer dos tempos, mudam a linguagem e a pedagógica do anúncio querigmático.
Refletindo sobre os desafios que temos enfrentado, concluo que não devemos ter medo de adentrar o mundo digital, particularmente das redes sociais, como espaços para evangelização, desde que fundamentados na graça do Espírito e atentos às formas de comunicação moderna, para que o canal utilizado não prejudique ou distorça a verdade anunciada. Somos impelidos à pregação das verdades sobre Jesus Cristo, contidas nos Evangelhos e no Catecismo da Igreja Católica, como formulação essencial e completa do conteúdo da fé para o homem do nosso tempo, no universo que mais o atinge: o digital.
Nesse sentido, nós, sacerdotes e bispo da diocese de Leopoldina, temos lançado mão de diversos instrumentais para sermos “presença” na vida do Povo de Deus, mesmo em tempo de isolamento social. Nossos encaminhamentos institucionais e pastorais também seguem o seu curso, por meio de videoconferências. Desta forma, sempre na dinâmica da comunhão, potencializada pelos diversos conselhos, estamos gerando alternativas e saídas por partilhas e análise dos desafios. Buscando novas ideias para a evangelização, pela mudança de mentalidade, ampliamos o diálogo evangelizador com a cultura digital.
O mundo digital permeia nosso dia a dia, minuto a minuto. As redes sociais são paradigmas que afetam o relacionamento humano através de imagens (celular), sites, blogs, redes sociais (facebook, instagran, twitter, pinterest, tumblr, myspace, friendster, Hi5, bebo etc…), emails. Podemos citar, também, WebTv e WebRádio. Mais do que simples instrumentais de comunicação, as “redes” são novos meios de interação com a realidade e de convivência entre as pessoas. Como promover em tal “universo”, com critérios e assertividade, um caminho na dinâmica da experiência cristã de Deus?
Nesse tempo de pandemia, esforçando-nos para ser presença e dinamizar nossas iniciativas, descobrimos uma nova oportunidade de refletir sobre o diálogo, mais que urgente, com a cultura midiática, sobretudo as redes sociais. Vislumbramos as possibilidades de um fértil diálogo evangelizador com a sociedade contemporânea. Que a Igreja “em saída” possa contribuir na construção de uma sociedade humanizada, que priorize a vida e caminhe no encontro com Jesus, por meio da escuta da Palavra e conversão do coração, que motivem a vivência em comunidade de fé e celebração dos mistérios de Cristo.