Nos dias 22, 23 e 24, ocorreu o XIX Encontro Ecumênico do Regional Sul 1, contando com a presença de diversos representantes leigos e ministros de diferentes denominações cristãs. Este ano o encontro teve como lema bíblico o texto do apóstolo Paulo: “Acaso o Cristo está dividido?” (1 Cor. 1,13). Foram dias que conduziram à reflexão sobre a impossibilidade de atuação contrária ou isolamento entre nós cristãos. Diferentes temas foram tratados, de modo que ao fim deste Encontro, certamente, podemos responder ao apóstolo: “Não. O Cristo não está dividido, um só é o Senhor, todos queremos segui-Lo.”
Na abertura contamos com a presença de Dom Carmo João Rhoden, que trouxe-nos uma reflexão sobre a dimensão normativa da Palavra, isto é, partindo desta formamo-nos em nosso discipulado, deixando-nos alcançar pela Palavra reconhecemo-nos possuidores de um patrimônio comum. Deus tenta sempre nos alcançar, revelando-se a nós, gerando a unidade dos filhos e filhas. Portanto, é preciso ouvir fielmente o Senhor, cultivar a fraternidade e pela graça de Deus diminuir os obstáculos que nos impedem de testemunhar nossa filiação como família de Deus (cf. Jo 1,12).
Na manhã de sábado trabalhamos a dimensão do “Sincretismo religioso”, apresentado na palestra do Padre Douglas Pinheiro. Discutimos sobre a importância de não se esvaziar ou diminuir o conteúdo do Evangelho para anunciá-lo a qualquer custo, afim de não cair no relativismo, algo que consequentemente desmerece o ecumenismo, pois torna-o sujeito à crítica de irenismo (falso conceito de ecumenismo).
Posteriormente, refletimos também sobre a possibilidade do diálogo com pentecostais. Para entendermos partimos da compreensão do modo de agir segundo o Ecumenismo Espiritual (cf. UR.08) enquanto ponto de intersecção. O padre Douglas apresentou-nos as duas plataformas de diálogo (igrejas históricas e igrejas pentecostais), e os diferentes grupos de interlocutores nesta perspectiva do diálogo com estes últimos. Vimos o testemunho de diferentes grupos que atualmente trabalham nesta dimensão, por exemplo: CRECES, ENCRISTUS, KAIROS e United in Christ.
Noutro momento, desenvolvemos um estudo sobre o Sacramento do Batismo – segundo orientações do Con. José Bizôn, a partir do Documento de Lima (BEM). Neste sentido, avaliamos diferentes situações pastorais, onde o batismo não pode ser nunca causa de divisão, pois, ao contrário, este sacramento realiza a união com Cristo e entre os irmãos na comunidade cristã. Portanto, apesar das distinções das próprias instituições eclesiais, o nosso batismo comum, que nos une ao Cristo na fé, deve ser vínculo fundamental de unidade.
Por fim, no último dia abordamos a Espiritualidade Ecumênica com Dom Francisco Biasin. Enquanto transformação pessoal, entendemos que a espiritualidade ecumênica tem início no interior da pessoa, pela abertura total ao Absolutamente Outro. Contudo, tal espiritualidade expande-se para além da experiência transcendente. A espiritualidade ecumênica exige saída, ou seja, como propõe-nos o Concílio pela “graça do Espírito” é preciso alcançar a “plenitude da Unidade”, gerando a comunhão por gestos concretos que visibilizem a estima do outro, superação dos preconceitos, mútua e contínua caridade.
Disse-nos Dom Biasin: “O ecumenismo faz-se pelo caminho da cruz, não se pode esperar jamais triunfalismos. Deve-se viver o despojamento, tal qual Jesus Cristo”. A partir do dom batismal precisamos viver a fraternidade, devemos eliminar palavras, juízos e ações que ferem a fraternidade. No viés da espiritualidade ecumênica cada qual deve ter consciência da própria identidade, fidelidade à mesma, e compreensão das outras expressões eclesiais. Pelo reconhecimento mútuo do patrimônio comum teremos maior credibilidade, superando o formalismo ecumênico e concretizando o ecumenismo espiritual.
Estes foram dias de muito aprendizado, como falou o Papa Francisco em sua Exortação: “São tantas e tão valiosas as coisas que nos unem! E, se realmente acreditamos na ação livre e generosa do Espírito, quantas coisas podemos aprender uns dos outros! Não se trata apenas de receber informações sobre os outros para os conhecermos melhor, mas de recolher o que o Espírito semeou neles como um dom também para nós”(EG.248). Que possamos reconhecer os frutos do Espírito que se revelam entre os cooperadores de Deus (cf. 1Cor. 3,9), cresçamos juntos na unidade, como peregrinos que caminham juntos!