Cidade do Vaticano (RV) – No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar no programa de hoje sobre a reforma litúrgica trazida pelo evento conciliar.
Neste nosso espaço Memória Histórica, temos refletido sobre os 10 aspectos da renovação litúrgica trazida pelo Concílio Vaticano II. No programa passado, o Padre Gerson Schmidt, que tem nos acompanhado neste percurso, nos trouxe o tema “Povo sacerdotal que celebra”, destacando que “o Concílio desloca o centro celebrativo – não é o sacerdote o foco. Há uma descentralização eclesial, outrora acentuando demasiadamente o sacerdote que ofertava o sacrifício. De uma liturgia centralizada na pessoa do “sacerdote celebrante” (que na liturgia não é único que celebra) se volta agora a ação litúrgica para a assembleia do “povo sacerdotal””.
No programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre nos fala sobre outro aspecto importante da reforma litúrgica: “O uso da Língua Vernácula”:
“Mencionamos aqui nesse espaço que na reforma LITÚRGICA do Concilio Vaticano II, percebemos 10 aspectos de renovação, a partir da constituição dogmática Sacrossanctum Concilium, que aqui enumeramos. Fizemos uma explicação detalhada do primeiro aspecto: O valor da Assembleia Litúrgica. Hoje queremos entrar num segundo ponto: o uso da Língua Vernácula (SC 36; 63).
Todos nós conhecemos os contos infantis mais variados. Quem não conheceu a história do Lobo mau? Mas, se eu aqui contasse a história do lobo mau em chinês, poucos entenderiam. Na mesma forma se deu na liturgia, quando se rezava tão somente em Latim, que já não era mais a língua fluente, como um dia era usual no Império Romano. O Concilio Vaticano II permitiu o uso da Lingua vernácula, a língua mãe de cada nação para ser utilizada na liturgia. Esse foi de fato um avanço singular, muito importante.
Importante aqui relembrar, sobretudo aos mais jovens, de que a missa era celebrada em latim, de costas ao povo, e a maioria das pessoas assistiam a missa, sem entender nada da Liturgia, não sabendo responder as respostas do rito, cabendo esse diálogo da missa tão somente ao coroinha ou sacristão. A maioria do povo, enquanto o padre celebrava, rezava o terço ou suas orações particulares, prestando mais atenção tão somente quando se tocava a campainha ou sineta litúrgica na hora da consagração. A permissão do uso da língua vernácula pela constituição Sacrossanctum Concilium, já trouxe a possibilidade dessa participação mais ativa e consciente, a renovação dos ritos, aclamações e cantos.
O número 36 da SC afirma assim, depois de falar da Língua oficial Latina na Liturgia: “Dado, porém, que não raramente o uso da língua vernácula pode ser muito útil para o povo, seja na missa, seja na administração dos sacramentos, seja em outras partes da liturgia, dê-se-lhe um lugar mais amplo, especialmente nas leituras e admoestações, em algumas orações e cânticos, segundo as normas estabelecidas para cada caso nos capítulos seguintes.
O Parágrafo 03, desse número 36 diz que cabe à competente autoridade eclesiástica territorial – bispo local – os bispos das regiões limítrofes da mesma língua, decidir acerca do uso e extensão da língua vernácula. Tais decisões deverão ser aprovadas ou confirmadas pela Sé Apostólica. No número 63, da SC afirma assim: “Estes rituais – com as adaptações da língua vernácula – serão usados nas respectivas regiões depois de aprovados pela Sé Apostólica.
Na elaboração destes Rituais, ou nestas coleções especiais de ritos, não se omita nenhuma das normas propostas no Ritual Romano para cada rito, quer sejam de caráter pastoral, quer digam respeito às rubricas, quer tenham especial importância social”.
Percebemos que a orientação da SC é bem módica, possibilitando a língua vernácula tão somente em algumas partes. Mas que, na realidade, transcorridos os 50 anos de Concílio, todo o Rito Romano está traduzido na língua mãe de cada país, facilitando a compreensão e participação dos fieis leigos, que é um dos pontos também da renovação litúrgica”.
Fonte: Rádio Vaticano