Na abordagem da Sagrada Escritura como Palavra de Deus, percebe-se a dimensão Teológica, ou seja, a mensagem Divina Revelada ao Homem. O termo palavra é utilizado para se referir a Sagrada Escritura, e com um grande sentido.
Sabe-se que a palavra é um elemento peculiar dos seres que possuem a capacidade de pensar, e, por meio dela o ser humano é capaz de se comunicar. Por meio da comunicação se revelam as intenções e até mesmo a personalidade de quem se comunica.
Se uma das características de Deus é o comunicar, Ele em sua bondade e livre decisão se comunica ao homem, se mostrando próximo a ele, sua imagem e semelhança capaz também de comunicação, instaurando assim um diálogo por meio da Revelação. Assim afirma a Verbum Domini:
“A novidade da revelação bíblica consiste no fato de Deus Se dar a conhecer no diálogo, que deseja ter conosco[1]”.
Ao se comunicar, Deus, aos poucos vai se revelando, o termo revelar aqui expressa o sentido de retirar o véu, se deixando conhecer pouco a pouco por meio de sua Palavra. Deus revelou-se por meio dos acontecimentos, profetas e, por fim, revelou-se plenamente em Cristo Jesus (Mistério da Palavra e Mistério da Encarnação).
A Sagrada Escritura é fruto dessa Revelação, que segue um processo até chegar a Bíblia tal qual se tem atualmente. O processo tem seu início no ato de decisão, vontade, bondade, amor e sabedoria do Deus que se revela.
Essa revelação também possui duas características, ou como muitos afirmam, dois aspectos, a humana e a teológica. A teológica é a afirmação de Deus que revela a si mesmo, ou seja, quem Ele é. Por sua vez a antropológica é Deus revelando seu plano de salvação ao homem, no caso é a revelação do que Ele pretende. Sendo assim, fica claro que o conteúdo da Revelação é o próprio Deus e o homem por Ele amado. Então, Deus é autor principal da Bíblia, o agente que impulsiona todo o processo de gestação das Escrituras, transmitindo pela ação e assistência do Espírito sua mensagem.
Deus é o autor principal da Sagrada Escritura.
“As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo[2].
A respeito da ideia de inspiração divina há uma problemática. Muitos não compreendem o real sentido do conceito inspiração, e, assim deturpam o real sentido de Deus ser o autor principal.
Muitos tendem a utilizar a expressão Inspiração e Palavra de Deus intercambiavelmente, esquecendo-se que se referem a relações distintas. Na realidade deve se ter claro que Inspiração refere-se a relação de Deus com os autores dos textos, e da relação dos textos com seus leitores.
Inspiração vem do latim inspirare (soprar para dentro). No sentido bíblico, inspiração é a comunicação de Deus a pessoas. Tal fato é necessário se ter claro, para que se evite cair em alguns erros como: pensar que um autor escreveu as palavras que de alguma maneira foram ditadas por Deus. Colocando o hagiógrafo como que um “secretário” de Deus, pois, se assim fosse Deus por diversas vezes se equivocou e se contradisse; com o intuito de afirmar que na bíblia não contém erros, muitos colocam o peso da inspiração no próprio texto, quando na realidade inspirados são os autores e não os escritos.
Para se compreender, de maneira segura e correta, de como Deus está na origem da escritura tem que se ter claro que os escritos da bíblia são testemunhos de experiências e vivências da presença e da ação do Espírito de Deus no meio de seu povo.
Nesse ponto vale lembrar que há distinção entre Revelação e Inspiração.l
Revelação |
Manifestação da presença de Deus na história humana. Manifestação essa pela qual ele se dá a conhecer. |
Inspiração |
Dom. Dom no sentido de carisma. Carisma que guia pessoas a reconhecer, compreender, interpretar e transmitir corretamente a Revelação. |
A relação harmônica entre ambas é de extrema importância para a autenticidade dos escritos, pois se a Revelação não fosse reconhecida e compreendida como tal, ela seria estéril. E se a revelação não houvesse chegado ao Homem, não se teria a mensagem divina. Sendo assim, verifica-se entre ambas uma relação de complementaridade.
Conclui-se que toda Sagrada Escritura tem como origem a Revelação, e, portanto, é Inspirada por Deus. Isso é o que diz Timóteo capítulo 3: “toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para corrigir, para instruir na justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas as obras boas” (Tim. 3, 7-17), uma vez que o Espirito Santo dá conhecer aos hagiógrafos a mensagem revelada levando-os a reconhecer interpretar e compreender a mesma. Por esse mesmo motivo a Sagrada Escritura possui também sua dimensão humana, ou em outras palavras antropológica.
Dimensão está que será estudada no próximo tópico, em nossa próxima publicação.
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[1] Verbum Domini, §06
[2] Catecismo da Igreja Católica, p. 39, parágrafo 105
Texto base:
ARENS, Eduardo. A Biblia sem mitos: uma introdução critica.
3ª ed.; Paulus. São Paulo – SP, 2007.
por Diego Novaes