Com toda a Igreja, iniciamos o tempo da Quaresma. Em sintonia com a Igreja do Brasil, iniciamos a Campanha da Fraternidade, que traz como tema “Fraternidade: Igreja e sociedade”, como lema “Eu vim para servir”.
- “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Como ouvimos, o Senhor, por meio do profeta Joel, conclama-nos: “voltai para mim com todo o vosso coração. Voltai, o Senhor é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar” (Jl 2,12-13). O Apóstolo Paulo, grande missionário e homem de profunda experiência de Deus, exorta: “deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5, 20). Jesus nos tornou livres e leves, carregando-Se, Ele, de nossos pecados. Vivamos a graça desta liberdade. Permaneçamos carregados por Ele.
Neste sentido, conforme o texto do Evangelho de hoje, Jesus busca reorientar nosso olhar, centrar nosso coração no essencial, educar nossos desejos e vontades. Que estejamos abertos, e vazios de nós mesmos; que busquemos a fecundidade e a plenitude do Espírito. Oxalá o Senhor possa nos tornar satisfeitos pela suavidade da Sua gratuidade, e que, assim, possamos receber a recompensa, que o Pai tem gosto em nos dar. Diz, precisamente, o texto “E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”. O alvo é Deus e nossos irmãos e nossas irmãs, Suas imagens e semelhanças. Não há amor a Deus sem amor ao próximo. Não há conversão a Deus que não seja retomada da fraternidade. Somos todos conclamados a nos abrir aos apelos que vêm de Deus, e de seus filhos e filhas. Somente assim seremos filhos do Altíssimo!
As nossas ações podem ser feitas de duas maneiras opostas: 1) para nos gratificarmos a nós mesmos, recebendo elogios dos outros e, assim, embolsarmos o nosso pagamento (o que é um ato de corrupção e de roubo!); ou 2) para a glória d’Aquele que, desde sempre, nos louva e nos reconhece como filhos e filhas. Não temos muita escolha: ou escolhemos a nós mesmos até ao desprezo de Deus, ou escolhemos a Deus até ao desprezo de nós mesmos, como dizia Santo Agostinho, na Cidade de Deus.
Precisamos do olhar do outro para viver. Cabe a cada um de nós escolher um olhar: o seu próprio, o dos outros ou o olhar de Deus Pai. Jesus escolheu o olhar do Pai e recomenda isso a nós. O bem só precisa de um reconhecimento: o de Deus, que aprova a nossa consciência. Façamos como Jesus: que o nosso alimento seja fazer a vontade do Pai, e nossa missão servir e dar nossa vida em resgate de muitos. Isto é ser inteligente e sábio, ungido pelo Espírito Santo. Então, olhando-nos, o Pai dirá: “Tu és o meu filho amado. Em ti encontro o meu agrado”.
- Iniciamos, hoje, a santa Quaresma. Este tempo vai até a Missa da Ceia do Senhor, exclusive. É o tempo para preparar a Páscoa. É tempo de abertura para o mistério da dor e da morte, da cruz, do Crucificado. Nele somos conduzidos à Ressurreição, à graça da vida plena. Quaresma é caminho de identificação com Cristo, que pede de nós jejum, oração e esmola. Eis o tempo para “deixar-se conduzir pelo Espírito” (Gl 5,16), acolhendo com gratidão as surpresas da vida, delicadezas do amor em excesso de Deus. Deixemos Deus esculpir em nós o rosto e as atitudes de Seu bendito Filho.
Ocorre, pois, um mergulho em Deus (oração), um abrir-se aos outros (esmola) e capacidade de ordenar e dirigir a própria existência (jejum). Essas práticas devem nos levar a uma identificação com Jesus Cristo. Quaresma torna-se, assim, um “estar com Jesus” no deserto, para, como Ele, dar a Deus o lugar central em nossas vidas.
A Liturgia desta Quarta-feira das Cinzas joga luz sobre a Vida que resgata vidas! O Crucificado como servo das dores! Ele, o libertador para servir como Deus serve. Eis a graça que, em Jesus Cristo, Deus servo nos concede: o dom de ser serviço para os irmãos e irmãs.
- A CF deste ano – Fraternidade: Igreja e sociedade, Eu vim para servir – provoca um “debate sobre a participação e atuação dos cristãos na vida social”. O objetivo é aprofundar, a partir do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus.
Conforme Dom Leonardo, “Essa Campanha procura lembrar que a Igreja está a serviço das pessoas, ela não quer privilégios. Até porque a Igreja é mais do que uma estrutura, ela é cada cristão, cada batizado”.
Precisamos cuidar para não nos tornar seres alienados, alheios à realidade concreta da pessoa em necessidade, que respira, que emite odor e suplica ajuda. Infelizmente, o outro pobre passou a ser alguém que a sociedade quer distante. No entanto, somos lembrados pelo Evangelho – e nosso Papa Francisco insiste nisso – que encontrar-se com os marginalizados, excluídos e desfigurados pelas injustiças sociais é encontrar-se com o próprio Cristo. Ele quer, um dia, dizer a cada um de nós: “Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer…” (Mt 25,34).
Em seus pronunciamentos, o papa Francisco recorda a importância da Igreja estar a serviço de seu povo. Fala de uma Igreja em saída, comunidade samaritana, e afirma que a Igreja não pode se omitir, nem abster de dar sua contribuição para a reta ordem ética, social, econômica e política da sociedade. Afinal, Jesus enviou os discípulos para serem Luz e sal do mundo, para serem fermento na massa. O que cabe a nós fazer para que este mundo, nossa Diocese de Lorena, seja melhor, mais conforme o pensar e o viver de Jesus? É dever e missão nossos: dar visibilidade ao Reino de Deus, aqui, onde nós temos a graça de viver. Não podemos, como batizados, nos furtar desta missão. Sejamos luz do mundo, servindo, a exemplo de Jesus. Lembremo-nos: ‘quem não quer servir, não serve para viver’.
- Finalizando, lembremo-nos: Domingo de Ramos é dia da Coleta da Solidariedade. Muitos de nossos irmãos e irmãs, muitas Igrejas esperam e precisam nossa ajuda.
Que Nossa Senhora da Piedade nos ajude a sair de casa e ir ao encontro das muitas “primas Isabel”, que precisam de nossa ajuda e serviço.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.