Reflexão sobre a declaração Fiducia Supplicans

A Declaração Fiducia Supplicans (Confiança Suplicante), publicada em 18 de dezembro de 2023, sobre o significado pastoral das bênçãos na Igreja, não foi assinada pelo Papa Francisco, mas pelo Cardeal Víctor Manuel Fernández, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé. Fernández, argentino nascido em 1962 e teólogo, elaborou o documento, que recebeu a aprovação papal para sua divulgação.

A declaração explora o tema das bênçãos na Igreja Católica, diferenciando entre bênçãos rituais (litúrgicas) e simples (espontâneas), incluindo pessoas em situações que não estão em conformidade com as normas da doutrina moral da Igreja, como casais em situação irregular ou pessoas do mesmo sexo em uniões conjugais.

Enfatiza-se que essas bênçãos são direcionadas às pessoas, não às uniões, e são uma invocação da proteção e ajuda de Deus para que possam seguir Sua vontade conforme Seus mandamentos.

O documento reitera a doutrina da Igreja em relação ao Matrimônio, destacando sua natureza como uma união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, aberta à procriação. Também ressalta que tais bênçãos não podem ser interpretadas como uma legitimação moral de uniões que não são reconhecidas como Matrimônio pela Igreja.

Além disso, as bênçãos não devem ocorrer em celebrações litúrgicas, contextos sacramentais ou ritos matrimoniais simulados. Devem ser oferecidas de forma privada, sob a orientação do sacerdote, como uma oração espontânea pelas pessoas que as solicitam.

A declaração lembra que as pessoas em estado de pecado mortal não estão em estado de graça, mas podem receber uma bênção como um impulso sobrenatural para buscar a fidelidade ao Evangelho e crescer no amor divino.Embora tenha havido alguma controvérsia e discordância de algumas conferências episcopais e dioceses, o Papa Francisco reiterou o tema em uma entrevista no dia 08 de fevereiro, destacando que os padres têm a liberdade de conceder ou não as bênçãos. Ele comparou a reação às bênçãos a casais homossexuais com outras situações que não provocam escândalo, “Ninguém se escandaliza se eu abençoo um empresário que explora as pessoas, enquanto se escandaliza se eu abençoo um homossexual” enfatizando a importância de confiar na bênção divina, independentemente dos pecados das pessoas.

Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias

Bispo da Diocese de Lorena/SP