Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre
A fragilidade é algo inerente à natureza humana. Quando nasce, para viver teve necessidade dos cuidados dos pais; de forma semelhante, em cada fase e etapa da vida, cada um nunca conseguirá, de todo, ver-se livre da necessidade e da ajuda alheia, nunca conseguirá arrancar de si mesmo o limite da impotência face a alguém ou a alguma coisa. O reconhecimento leal desta verdade é um convite a permanecer humilde e a praticar com coragem a solidariedade, como virtude indispensável à existência.
A doença é expressão da fragilidade humana. Encontrando-se doente, o ser humano se esforça por alcançar a cura. Sentindo-se atingido pela doença, ele adquire um sentido dos limites de suas forças, luta e não se resigna à própria situação.
Quando a situação de doença necessita de atendimento hospitalar, a solidão marca o cotidiano da pessoa. Ali, usualmente, ela se torna um número ou um caso. Estuda-se o caso e se faz o possível para resolver a situação, a partir do diagnóstico médico.
Diante da disciplina hospitalar, o enfermo se sente subjugado. Compreende, talvez, como a instituição hospitalar segue um ritmo cadenciado de regularidade. Ele sofre a situação de doença, a frustração dos contatos familiares e das necessidades da sua personalidade, que é absorvida na engrenagem de uma grande vida comunitária.
A Igreja, ao longo dos séculos, construiu uma rede de obras de caridade, cujo objetivo maior é a promoção da saúde e da vida humana. Pessoas consagradas, especialmente mulheres – mas não só! – se empenham por ser uma presença amigável, compartilhando com os enfermos seu drama e sua solidão.
Se, hoje, por um lado se percebe a redução de consagrados e consagradas que se dedicam ao cuidado dos enfermos, por outro lado se constata o número crescente de voluntários que se dispõem a colaborar para que eles lutem por sua saúde e seu bem-estar.
Há 27 anos a Igreja, celebra no dia 11 de fevereiro o “Dia Mundial do Doente”. Na mensagem que o Papa Francisco escreveu este ano para esse dia, ele agradece e encoraja os voluntários que se dedicam ao transporte e assistência dos doentes; aqueles que promovem e providenciam doações de sangue, tecidos e órgãos. Destaque especial merece a dedicação na tutela dos direitos dos doentes, sobretudo dos afetados por patologias que exigem cuidados especiais, seja nas estruturas hospitalares, seja nos domicílios.
Cuidar da saúde é algo custoso. Contudo é preciso, de algum modo, superar a cultura do lucro e do descarte. As estruturas que se dedicam ao cuidado para com os doentes não deveriam cair no estilo empresarial. Afinal a grandeza do ser humano “determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre” (Bento XVI).