Paz e bênção. Rezar: passar do Eu para DEUS.
O cristão é convidado a abandonar toda saudade do passado e toda ansiedade pelo futuro, para viver o aqui e agora, ou seja, o presente com vigilância atenta e fidelidade responsável – Lc 18,1-8). O que conta é, sim, a vida atual: o destino de cada ser humano e de toda a criação se decide no momento presente, sem o qual o passado e o futuro são vazios. Este é o momento favorável, este é o dia da salvação. É aqui e agora que temos que acolher e encarnar a palavra de Jesus, hoje eterno de Deus feito carne na pobreza e na humildade de quem se doou até à entrega sem limite e sem volta da Cruz.
O Senhor se comporta como surdo para termos que gritar. Ele não precisa dos nossos gritos, mas nós precisamos gritar para Ele. Ele não precisa ouvir nossas palavras, mas nós precisamos ouvir a Sua. Na verdade, Esposo e esposa precisam ouvir um a voz do outro, porque a voz é a caixa de som do coração: ‘Deixa-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é suave’ (Ct 2,14).
É necessário rezar, pois a oração opera a morte do ‘ego’ para abrir espaço à ressurreição de Deus em nós. A oração produz o silêncio da criatura e vivifica este vazio com a palavra do Criador, que é nossa identidade profunda. E deve-se rezar sempre porque todo momento é momento da sua vinda. A salvação acontece neste tempo profano em que se come, se bebe, se casa, se compra, se vende…Paulo recorda: ‘Fazei tudo para a glória de Deus’.
Rezar sempre é iluminar todas as coisas e toda a minha vida, orientando tudo para o seu fim. O coração humano pode e deve estar sempre sintonizado com Deus e presente a Deus, porque feito por Ele e para Ele. Ação que não nasce da oração é como uma flecha atirada incidentalmente por um arco frouxo: sem mira e sem força, não vai atingir o alvo, a não ser casualmente.
O ser humano não pode produzir o Reino, que é dom de Deus! O ser humano pode, porém, acolhê-lo. E o acolhe somente se o espera. E só o espera se o deseja, e só mostra que o deseja se o pede sem cansar. A nossa invocação permite a vinda de Deus a nós e a acolhida de Deus por nós.
A oração é necessária para não se perder a fé na volta do Filho do Homem. A oração abre os nossos olhos para o Reino, vindo na pobreza, na humildade, no escondimento, e que, um dia, virá na glória. O Reino está aqui, nas lutas pelo bem dos nossos irmãos e irmãs. A oração não precisa ser atendida no que pede. O maior fruto da oração é o próprio fato de se rezar, isto é, de entrar em comunhão com o Senhor.
Bom dia. Abraço.
Dom João Inácio Müller, ofm
Bispo diocesano devLorena SP