Paz e bênção. Festa da Exaltação da Santa Cruz.
Esta festa nasceu em Jerusalém.
No calendário litúrgico cristão há várias Festas relacionadas à Cruz, todas com a intenção de relembrar a crucificação de Jesus Cristo, evento central da fé, como diz o apóstolo São Paulo: “nós pregamos a Cristo crucificado, que é para os judeus uma pedra de tropeço – um escândalo -, e uma loucura para os gentios, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus. A loucura de Deus é mais sábia do que os homens e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Cor 1, 23.25).
Enquanto a Sexta-Feira Santa é dedicada à paixão e Crucificação, a Festa da Exaltação da Santa Cruz, em 14 de Setembro, celebra a cruz como instrumento de salvação, fonte de santidade e símbolo revelador da vitória de Jesus sobre o pecado, a morte e o demônio, caminho seguro da glória, pois é o caminho que Jesus escolheu para falar da profundidade do Pai.
Santo André de Creta diz: “Celebramos a festa da cruz; por ela as trevas são repelidas e volta a luz. Celebramos a festa da cruz e junto com o Crucificado somos levados para o alto para que, abandonando a terra com o pecado, obtenhamos os céus. A posse da cruz é tão grande e de tão imenso valor que seu possuidor possui um tesouro.”
Sabemos e cremos: Foi na Cruz que Jesus consumou a sua oblação de amor para glória e alegria de Deus e nossa salvação. É, pois, justo que veneremos o sinal e o instrumento da Redenção. Segundo a tradição, a Verdadeira Cruz foi descoberta em 326 por Helena de Constantinopla, mãe do Imperador Constantino I, durante peregrinação à cidade de Jerusalém. Como foi a descoberta da Santa Cruz?
A Igreja do Santo Sepulcro foi construída no local da descoberta, por ordem de Helena e Constantino. A igreja foi dedicada nove anos após, em 335, com uma parte da cruz em exposição. Em 13 de Setembro ocorreu a dedicação da igreja. No dia seguinte, dia 14 de setembro foi explicado ao povo o significado profundo da igreja, mostrando-lhe o que restava da Cruz do Salvador, e a cruz foi posta em exposição, para que os fiéis pudessem orar e venerá-la. Em 614 os persas invadiram a cidade e tomaram a cruz. Esta foi recuperada pelo Imperador Bizantino Heráclio em 628. Após um ano em Constantinopla, a cruz retornou ao Santo Sepulcro, onde foi solenemente entronizada e venerada. Isto, no dia 14 de setembro, no ano de 629.
Esta festa da Exaltação da Cruz guarda relação com a Sexta-Feira Santa. Jesus foi condenado à morte de cruz, carregou-a sobre os ombros até o Calvário, nela foi pregado e nela foi levantado da terra. Entregando livremente sua vida, no gesto supremo do amor ao Pai e aos irmãos, Jesus transformou a vergonha da cruz em fonte de salvação.
Assim, a cruz fala. Fala de quê? A cruz fala do amor sem limites de Deus por seus filhos e filhas. A cruz simboliza a derrota do pecado e a vitória do amor. A cruz evoca a doação amorosa de Jesus. A cruz lembra, também, nossas maldades e injustiças. Quanta beleza contemplo neste mundo redimido por Jesus! Mas também – e o digo com dor -, quantas pessoas continuam a ter sua dignidade negada e agredida. Deus nos deu um mundo, um Brasil tão belo e rico. Belo e rico para quem? Nós não podemos carregar nossos irmãos e irmãs com miséria, morte, exclusão, doença. Levantemos nossos olhos para o Crucificado. Ali, podemos contemplar o valor de cada pessoa, o preço de cada pessoa. Infelizmente e com vergonha precisamos admitir que ainda hoje, crucificamos Jesus.
No alto da cruz, Jesus mostra o que fez em cada dia de sua vida entre nós, como Ele mesmo diz: “eu vim para servir e não para ser servido”; e: “ninguém tem amor maior do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”; ainda: “Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la; quem despreza a sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna. Se alguém quer servir a mim, que me siga. E onde eu estiver, aí também estará o meu servo. Se alguém serve a mim, o Pai o honorará”.
Diz Jesus, “Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu”. Deus desce à terra, para dar-se a nós. Deus é amor que desce para vir ao nosso encontro. Ser filho é dom de amor. Jesus, o Filho do Pai nos ensina o que é amor, e deste amor nasce a vida, nós dele nascemos, nascemos do Alto, nascemos do levantamento do Filho, do Filho levantado, do Filho que todo se entrega, que nada de si para si reserva: tudo e todo se dá: Deus é assim. Nesta escola somos chamados a nascer. São Paulo nos ajuda, como bom mestre e guia, dizendo o que devemos fazer, ou seja: devemos fazer como Ele fez. O que Ele fez? Ele “esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens; humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”.
Portanto, a vida que conduz para o Céu caminha para baixo.
Em Jesus crucificado Deus nos ama. Ele nos ama e nós somos o Seu amor. Jesus Crucificado é verdadeiramente o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele mostra Seu amor incondicional por cada um de nós. Ele é louco amor por nós.
Adoremos nosso Senhor Crucificado, venerando a Santa Cruz.
Bom dia. Abraço.
Dom João Inácio Müller,ofm
Bispo diocesano de Lorena SP