Paz e bênção. O Reino é pequeno, mas valente: tem o Espírito.
O Reino fala da vida e a vida dá fala ao Reino.
O Reino tem a cara do seu anunciador. É pequeno como ele. É como a sementinha de nada misturada ao pó do chão. É como o tiquinho de fermento que a cozinheira joga na farinha. Quem não entende esses falares simples, estas comparações luzeiras? Assim, o Reino fala da vida e a vida dá fala ao Reino.
O problema de fundo dessas duas parábolas (Mt 13, 31-35) está ligado a alguns dos interrogativos mais profundos do ser humano: por que o bem é tão ‘pequeno’ e até ‘imundo’? Por que o Reino, iniciado com Jesus e em Jesus, recolheu em torno de si tão pouca gente e gente tão insignificante: pobres, marginalizados, pecadores? O que será de um reino que só pode contar com pessoas socialmente fracas e religiosamente desclassificadas?
Ensina Jesus que faz parte dos mistérios do Reino esse contraste entre a insignificância atual e o esplendor futuro. Entre as duas situações, porém, há uma continuidade real, parecida com a que existe entre a semente e a planta, o fermento e a massa crescida. Paulo vai dizê-lo sem parábolas ao escrever à humanidade insignificante de Corinto: ‘aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante’ (1Cor 1,28). Segundo o Deuteronômio, Israel não foi escolhido por suas qualidades, mas justamente por ser ‘o menor dos povos da terra’ (Dt 7,7). Manifestam-se aí a liberdade de Deus e a nossa libertação: liberdade de Deus, porque é amor, e o amor se faz pequeno e humilde; nossa libertação, porque somos pequenos e, assim, somos libertados de nossa mania de grandeza.
Bom dia. Abraço.
Dom João Inácio Müller, ofm
Bispo de Lorena SP