Introdução ao Livro dos Salmos

“O nome atual do Livro dos Salmos, ou simplesmente Salmos, está diretamente ligado a mais antiga designação utilizada para esta coleção de poemas ou cânticos religiosos. O nome português deriva da palavra grega ‘Psalmoi’ e esta é já utilizada na antiga tradução grega, chamada dos Setenta, para traduzir o termo hebraico ‘mizmorôt’, (cânticos). Este parece ter sido o seu nome hebraico mais antigo. Por isso, quando o Novo Testamento lhe chama ‘biblos psalmôn’ (Lc 20,42; Act 1,20), está a usar uma designação correta e formal. No entanto, já nos textos de Qumrân e em alguns autores cristãos antigos aparece o nome que atualmente lhe é dado na Bíblia Hebraica: ‘Sepher Tehillim’, ‘Livro dos louvores’”[1].

“Tehillim, da raiz hll, significa hinos, loas, cantos de louvor. Tratando-se de repertório de orações, o destinatário do louvor é Deus, o Senhor de Israel e de todo o mundo, senhor dos exércitos estelares, etc[2].”

O Livro dos Salmos engloba, na atual Bíblia Hebraica, um conjunto de 150 cânticos, onde os Sl 1 e 2 constituem a abertura e o Sl 150 representa o encerramento. Mas o numero não é exato. “Há salmos que formam unidade, mas estão divididos em dois, como por exemplo os salmos 9 -10 e 42-43; outros estão repetidos, como 14 e 53, 70 e a segunda parte do 40. No salmo 9-10 a numeração grega (Setenta e Vulgata) se separa da hebraica e continua com um numero a menos até coincidir de novo no 147[3].” Como podemos ver existe uma variação na numeração dos salmos, mas este fato não altera o conteúdo dos salmos, mas o numero de 150 salmos se tornou o número canônico no texto hebraico.

A numeração nas duas Bíblias é a seguinte:

Bíblia Hebraica Setenta e Vulgata
1-8 1-8
9 9,1-21
10 9,22-39
11-113 10-112
114 113,1-8
115 113,9-26
116,1-9 114
116,10-19 115
117-146 116-145
147,1-11 146
147,12-20 147
148-150 148-150

 

Autoria e Composição dos Salmos

 

“Uma velha tradição diz ou clama: Davi! Como Moisés escreve os cinco livros da torá, assim Davi compõe os os cinco livros dos salmos. Tão legendária é uma notícia como outra. Delitzsch ainda dava crédito às atribuições massoréticas; nos inícios do século Ecker defendia uma posição que considerava moderada, para manter a autoria davídica de numerosos salmos. Recordemos que autores antigos, para reservar a Davi todo o saltério, consideravam os outros autores como executores ou interpretes.”

Contudo, por respeito à velha tradição, será decoroso apresentar alguns supostos autores. Asaf: segundo informações tardias do Cronista, Asaf filho de Baraquias foi mestre de canto de Davi (lCr 6,39.43; 15,17; 16,5; 2Cr 29,30); também seus filhos e descendentes foram músicos do templo (lCr 25,2; 2Cr 20,14; 29,13; Esd 2,41; 3,10; Ne 7,45; 11,22). Comose vê, toda a informação é tardia. Coré: o chefe de uma revolta contra Moisés’ (Nm 16). Seus filhos foram Aser, Elcana e Abiasaf; seus descendentes aparecem como autores de onze salmos, lditun aparece nos títulos gregos de Sl 38 e 76; foi mestre de música nos tempos de Davi (lCr 16,41ss; 25,116; 2Cr 5,12). Etã e Hemã: mestres de canto da mesma época (lCr 6,44); atribuem-se-lhes respectivamente o Sl 89 e 88.[4]

Ao aprofundarmos nosso estudo sobre a composição dos salmos notamos que a composição dos salmos em quase toda sua totalidade esta atribuída ao culto. Também fica difícil datar a composição de cada salmo, pois não temos informações exatas sobre a época em que cada salmo foi composto. Mas temos algumas informações que nos ajudam a compreender que alguns salmos podem ter sido compostos pouco antes do início do Novo Testamento, e outros ainda no período do exilio do povo de Israel e outros até mesmo antes do exílio. Mas sabemos que estes poemas religiosos foram compostos ao longo de muitos séculos. Nada impede que a maioria seja anterior ao Exílio e alguns deles possam mesmo ser do tempo de Davi; alguns podem até ser mais antigos. Houve certamente épocas privilegiadas na produção destes Salmos; a de Davi poderá ter sido uma delas.

Gênero Literário e Teologia

“Hoje é corrente a classificação dos salmos por gêneros literários. O gênero é definido pelo tema, desenvolvimento, recurso formais e pela situação em que nasce ou para a qual é composto. Nem todos os comentaristas coincidem na lista completa de gênero e muito menos na classificação de cada salmo. Nessa tarefa é preciso evitar o rigor e reducionismo. Os poetas não faziam voto de rigor, e mais importante que o gênero é indivíduo[5].”

SCHOKEL nos oferece a seguinte lista de gêneros:

  1. Hino: 64; 148. São suas especificações:
  2. canto de entronização ou realeza de Yhwh: 93-99
  3. canto de/para Sião: 48; 122
  4. Ação de graças: 18; 116
  5. Suplica nacional ou comunitária: 74; 79
  6. Súplica individual
  7. de perseguido: 22; 35
  8. de doente: 6; 38
  9. de inocente falsamente acusado: 17; 26
  10. Canto de confiança: 4; 23
  11. Por ou para o rei: 45; 72
  12. Liturgia: 118
  13. Sapienciais
  14. históricos: 78; 105
  15. meditações: 49; 73  [6]

Como podemos perceber os salmos são textos de oração, eles respiram o ambiente humano, ou seja, são permeados pelas situações da vida do homem: “Os momentos de crises, de abandono, de louvor, de imprecação (maldição). A realidade humana é rica e diversificada, do mesmo modo são os textos que acompanham a oração. Tal multiplicidade não se deve somente à diversidade de gêneros, pois pode ser encontrado no interior de um mesmo salmo. Por vezes em um salmo louva-se a Deus porque escutou-se a voz de um lamento. Portanto, os salmos não podem ser esquematizados rigorosamente, porque refletem a vida humana e por isso mesmo não se deixa esquematizar[7].”

“Com os Salmos rezamos, sim, com nossas palavras, mas estas são ao mesmo tempo Palavra de Deus. Acontece, assim, um intercâmbio espetacular, em que a Palavra de Deus se torna nossa. Com os salmos aprendemos a nos colocar diante de Deus, o que nos humaniza. Com os salmos aprendemos a falar a linguagem de Deus, a sentir os sentimentos de Deus[8].”

No livro dos Salmos de forma explicita vamos encontra de forma mais intensa uma concepção de Deus e de todos os elementos decisivos da experiência religiosa, ou seja, “um Deus que governa o mundo, a vida e a História, que é acolhedor e próximo, disposto a atender os pedidos de socorro, os gritos de desespero e os anseios de esperança, tanto de cada indivíduo como de toda a comunidade[9].”

Por fim, podemos notar que os Salmos passam a fazer parte da oração da Igreja, ou seja, ele passa da liturgia do Templo de Jerusalém, à liturgia da Igreja. Hoje meditamos os salmos seja na liturgia da Santa missa ou na liturgia das horas. “Os Salmos são “parte integrante da liturgia da palavra”, não são opcionais, mas essenciais. O próprio Cristo, Maria e as primeiras comunidades encontraram nos salmos sua maneira de rezar e celebrar. É um dos cantos mais antigos da celebração cristã, herdado das sinagogas judaicas e interpretado à luz de Jesus Cristo. Dentro do rito da Palavra o salmo é a fala de Deus cantada, tem o mesmo peso dos outros textos bíblicos, por isso deve ser feito sempre na mesa da Palavra e não deve ser substituído por um canto qualquer[10].”

Pe. Leandro Paulo do Couto

Comunidade Canção Nova

Diocese de Lorena – SP


[1] http://www.capuchinhos.org/biblia/index.php?title=Salmos

[2] SCHOKEL, Luiz Alonso. Salmos. vol. I. Paulus, São Paulo, 1996, p. 73.

[3] Bíblia. Bíblia do Peregrino. 2ª ed. Paulus, São Paulo- 2006. p. 1148.

[4] SCHOKEL, Luiz Alonso. Salmos. vol. I. p. 76.

[5] Bíblia. Bíblia do Peregrino. 2ª ed. Paulus, São Paulo- 2006. p. 1148.

[6] Ibid.

[7] Bíblia, Bíblia Sagrada Ave Maria, edição de estudo. 3ª ed. Ave Maria – São Paulo, 2012. p. 799.

[8] Ibid.

[9] http://www.capuchinhos.org/biblia/index.php?title=Salmos

[10] http://www.salvemaliturgia.com/2010/02/musica-liturgica-o-salmo-responsorial.html