“Ele Ressuscitou” (Lc 24,6)

Eis o anúncio que os três mensageiros divinos proclamaram às três mulheres que, na madrugada do domingo da páscoa, foram visitar o túmulo de Jesus. Este anúncio está na origem do cristianismo e de tudo aquilo que o envolve. Deste anúncio nasceram os evangelhos e todo o Novo Testamento. Este anúncio está na origem da Igreja e dos Sacramentos que ela celebra. Com este anúncio, iniciou-se no mundo a missão da Igreja, que vem até aos nossos dias. Este anúncio expressa a originalidade de Cristo com relação a todos os profetas e fundadores de religião. Todos eles estão encerrados no passado. Seus túmulos estão fechados. O único túmulo que permanece aberto até os dias de hoje é o de Jesus. Seu túmulo está vazio, porque ele ressuscitou. Está vivo, presente em nosso meio e exercendo o seu poder salvífico. Este anúncio expressa também a originalidade da Igreja com relação a todas as religiões. A Igreja é aquela comunidade única no mundo, que guarda a memória de Jesus Cristo, celebra a sua presença na Eucaristia e o anuncia a todos os povos. Este anúncio, pois, não e só objeto da nossa fé. Está na origem da nossa fé. Se o Cristo não ressuscitou, exclama São Paulo, é vã a nossa fé e vazia a nossa esperança. Se Cristo não ressuscitou, nós ainda não somos redimidos, estamos ainda prisioneiros de nossos pecados (cf. 1 Cor 15,17-19).

A ressurreição não foi um retorno de Cristo à existência terrena, à vida que ele tinha antes de morrer. Por meio da ressurreição, seu corpo se tornou um corpo glorioso, espiritual, não mais limitado pelo tempo e pelo espaço, não mais ameaçado pelo sofrimento e pela morte. Pela ressurreição, a sua humanidade adaptou-se à divindade. Afirma São Paulo que ele foi exaltado pelo Pai, elevado à sua condição divina e, por isso mesmo, ele pode ser adorado no céu, na terra e debaixo da terra. Ele pode ser proclamado “Senhor”, isto é, Deus e Salvador (cf. Fl 2,9 – 11).

Ele ressuscitou, ensina São Paulo, em nosso favor, isto é, para nos salvar e nos dar a certeza de que, um dia, participaremos também da glória de sua ressurreição. A ressurreição de Jesus nos revela que a nossa condição definitiva não é o sofrimento nem a morte. É a reconstrução de nosso ser em nível de corpo glorioso e espiritual.

A explicação última para a ressurreição de Jesus e para a nossa ressurreição é o amor de Deus. Deus nos ama. E seu amor é mais forte do que a morte.

São Paulo ensina que, pelo batismo, nós fomos inseridos sacramentalmente no mistério pascal de Cristo. O batismo causou a morte de nossos pecados, do pecado original e dos pecados pessoais, e nos ressuscitou como novas criaturas, nos consagrou a Cristo, nos uniu a ele. Formamos uma totalidade com ele, um só corpo.

Por isso, na noite de Páscoa, a Igreja nos convida a viver como novas criaturas pela santidade de vida, a percorrer no mundo um novo caminho no seguimento de Cristo. Este é o sentido da renovação das promessas batismais realizadas na solene liturgia da vigília pascal.