“Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi”.

Somos amados, escolhidos e capacitados por Deus para sermos pastores.

 

Sobre o texto do Evangelho de Mateus: as tradições parecem muitas vezes mais importantes do que a Tradição, a Revelação, o Evangelho. Na aparência, guardam o essencial; na essência, são subterfúgios humanos, concessões ao que é relativo, justificativa para não se abrir ao Transcendente, ao Sempre Maior, ao Novo. Jesus experimentou isso.

cura de ars4Celebramos, hoje, entre nós, o Dia do Padre, fazendo Memória do santo Cura d’Ars, apontado como modelo do clero paroquial, por Pio XI, em 1925, por ocasião da sua canonização. “O Sacerdote é o amor do coração de Jesus”, lembrava São João Maria Vianney. Belo isso.

Cada um de nós recorda da sua infância e do desabrochar vocacional. Deus foi chamando: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi”. Nosso Papa Francisco recomenda exatamente isso: que nunca percamos a memória da nossa primeira vocação, fomos escolhidos para este Ministério. Ser chamado por Deus é predileção. O Senhor chama os que ele quer. Chama para privar com Ele, ficar próximo a Ele, conviver com Ele, ser constituído discípulo e Apóstolo para ir no lugar Dele, em Seu nome, para onde Ele mesmo deveria ir. E Nosso Senhor envia como o Pai enviou e envia: confiança total. Por isso constitui e potencializa: “recebei o Espírito Santo”.

Creio que cada um de nós teve momentos de dúvida, de objeção ou de medos, ou mesmo de alguma infidelidade. Diria, isso foi normal nos chamados por Cristo. É normal também a busca por fidelidade e resposta pronta e consistente, alegre e disponível, de total entrega, a exemplo do Mestre: “Pai, não a minha vontade, mas a tua”. “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”. A humildade cotidiana acompanhava Jesus: “o Filho não pode fazer nada por sua própria conta; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho também faz. O Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que ele mesmo faz”. Nós fomos e somos atraídos para esta dinâmica: somos os íntimos de Deus, chamados a participar da intimidade do Filho e da sua obra.

É belo e comprometedor o que Jesus disse a Filipe: “Filipe, que me viu, viu o Pai”. Quem nos vê, que veja o Pai e o seu Filho bendito. Bela e nobre esta vocação e missão: ser transparência de Jesus Cristo. Somente isso e nada mais. Podemos nos sentir inadequados perante a grandeza da missão recebida. A objeção encontra resposta e superação no encorajamento de Deus a “não temer” e na promessa de que o próprio Senhor acompanhará e assistirá o Seu enviado e ungido. O Senhor elege, constitui, envia e acompanha. A missão é Dele.

É belo deixar tudo para se entregar a serviço de Deus! É a mais bela resposta de amor que alguém pode dar ao amor Daquele que morreu por nós, o sacerdote Maior: NSJC. Ao entregar-se nas mãos de Deus, como instrumento, disponível Nele, como e onde ele quiser, o Padre vai sendo conformado a Cristo, que entregou a sua vida por amor ao que é do Pai. Isto é vocação. JPII dizia que “vocação é o olhar carinhoso de Deus sobre cada pessoa”. E nós temos a graça de viver, no Sacerdócio, uma resposta agradecida a Deus por este olhar carinhoso. É como que dar de volta o que recebemos; dar de volta multiplicado, com generosidade, liberdade e alegria.

Dom Roberto Paz, em Homilia partilhada, escreve: Que alegria encontrar-se com um Padre que, entusiasmado, nos coloca na perspectiva do Reino, que nos fascina com as Palavras de Cristo e nos oferece o próprio Cristo na Eucaristia. Que sempre tem tempo para uma conversa, para curar as nossas feridas e nos dar o perdão em nome de Deus. Um irmão entre os irmãos e Pai para todos/as, especialmente dos pobres e desamparados, dos quais ele é o advogado, amigo e defensor incondicional. Num mundo frio, calculista, e líquido temos num Padre a pessoa cujo coração bate em sintonia ao Coração de Jesus, sentimos perto dele o bálsamo e o óleo da misericórdia, da compaixão e do amor que sempre acolhe.

Penso e digo a todos nós que aqui estamos: é uma grandiosa aventura e uma maravilha única ser Padre. Hoje, juntos, subimos à Fonte, ao nosso amor primeiro, Àquele que nos chamou, Àquele que amamos e por quem estamos apaixonados. Viemos celebrar, dialogar com Jesus, contemplar o Pastor para sermos pastores do jeito que Ele foi Pastor. Lembra Papa Francisco, falando a Sacerdotes: Sejam pastores, como Jesus pediu a Pedro: ‘Apascenta minhas ovelhas’. “Não existe glória nem majestade para um pastor consagrado a Jesus”, observou o Papa. Também somos frágeis: “Se nós perdemos o caminho e não sabemos como responder ao amor, não sabemos como ser pastores, não sabemos responder ou não temos a certeza de que o Senhor não nos deixará sozinhos nos piores momentos da vida, na hora da doença Ele nos diz: Segue-me. Esta é a nossa certeza. Nas pegadas de Jesus, nesta estrada: segue-me.”

Martini, em seu livrinho O Bispo, pergunta: que perfil deveria ter hoje um bispo? Creio que as indicações de resposta podem ser atribuídas também ao Presbítero. Na ordem de valores, assim Martini elenca:

1. Em primeiro lugar a Integridade. É preciso ser pessoa íntegra e honesta.

2. Uma segunda característica é a Lealdade. Homens capazes de dizer a verdade, capazes de não mentir jamais, por motivo algum.

3. Terceira característica: a paciência.

4. Ser pessoa de misericórdia. E termina dizendo: gostaria ainda de acrescentar a boa educação, a doçura no trato, a firmeza paterna, o amor pelo belo e por suas formas. Nada de ser um Autômato, rígido e todo segura em suas respostas. Que seja humilde e busque as respostas. Que saiba rir de si e de suas fragilidades. Tudo isso só será alcançado colocando no centro de tudo o Evangelho de Jesus Cristo.

 

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Abençoado Ministério. Parabéns. Gratidão. Bênção.

Dom João Inácio Müller, Bispo Diocesano de Lorena. Agosto, 05 de 2014.