Mãe Aparecida, ensinai-nos a colaborar com a obra de Deus

No decorrer da história, o Povo de Deus tem manifestado sua devoção a Nossa Senhora através de diversos títulos. Eles expressam as maravilhas que Deus realizou em Maria (cf. Lc 1, 49). Realizou em nosso favor. E para nós, brasileiros, o título que nos fala mais ao coração é o de NOSSA SENHORA APARECIDA, nossa Mãe e Padroeira.

De acordo com João Paulo II, a devoção a Nossa Senhora é a mais antiga que existe. Nasceu ao pé da cruz, quando Jesus vendo ali sua mãe e um de seus discípulos, disse a ela: “Mulher, eis o teu filho!” (Jo 19, 26). Em seguida, disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!”(Jo 19, 27). O evangelho não registra o nome do discípulo. Não o registra de propósito, pois o discípulo que estava ao pé da cruz representava, naquele momento, todos os discípulos de Jesus: os daquele tempo, os que surgiram no decorrer da história e os de hoje. Representava todos nós. Afirma o evangelho que o discípulo recebeu Nossa Senhora “em sua casa” (Jo 19, 27). Antes de tudo, na casa de seu coração.

Nisto, pois, consiste a devoção a Nossa Senhora: reservar um lugar muito especial para ela, antes de tudo, na casa de nosso coração.

A devoção a Nossa Senhora é algo essencial na vida do cristão, do verdadeiro discípulo de Jesus, pois Maria foi escolhida, desde toda a eternidade, para desempenhar um papel único na obra de Deus: a salvação da humanidade. Deus não só a escolheu, mas a preparou para essa missão tornando-a “cheia de graça” (Lc 1, 29). É com essa expressão que o anjo se dirige a ela no momento da anunciação. A graça é, antes de tudo, uma pessoa. É o Espírito Santo, Deus que vem até nós como dom, como presente , e produz em nós outros dons: a graça santificante, seus frutos e carismas. “Cheia de graça” significa, pois, plena do Espírito Santo. De fato, desde o primeiro instante da existência de Maria no ventre materno, o Espírito Santo ocupou todo o espaço de seu ser. Nenhum espaço restou ao pecado. Por isso, os irmãos orientais chamam Nossa Senhora de Panaguia, vocábulo grego que significa Toda Santa. Nós cristãos ocidentais a chamamos Imaculada.

Nossa Senhora não acolheu passivamente as maravilhas que Deus nela realizou. Cooperou ativamente. No momento da anunciação, ela diz ao anjo: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Com essa afirmação, ela se colocou inteiramente a serviço da obra redentora de seu filho. O evangelho nos mostra isso através de diversos fatos. Recordemos quatro deles.

Maria mostra Jesus ao mundo e o leva aos outros.

Ela mostrou Jesus ao povo de Israel, representado, na noite de Natal, pelos pastores. Mostrou Jesus a todos os povos da terra, representados, na epifania, pelos Magos.

Ela foi a primeira a levar Jesus às pessoas. Logo após a anunciação, parte pelas montanhas para visitar Isabel (cf. Lc 1, 39-40). Parte apressada. Trata-se da pressa do evangelizador, do missionário, daquele que é portador de uma alegre notícia. Podemos aplicar a ela, nesse episódio, as palavras do profeta Isaías: “Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro da boa-nova que proclama a paz, traz a felicidade, anuncia a salvação e diz a Sião: teu Deus reina!” (Is 52,7).

Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, ela ficou perplexa e perguntou: “ Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite?”(Lc1,43). “Mãe do meu Senhor” significa “Mãe de meu Deus”. Portanto, foi Isabel a primeira a proclamar Maria como Mãe de Deus.

Proclamação inspirada pelo Espírito Santo ( cf.Lc 1, 41). É, pois, na condição de Mãe de Deus que Nossa Senhora participa na obra da salvação.

Maria participa, de modo único, no sacrifício redentor de Cristo.

Quarenta dias após o nascimento, Jesus é apresentado no templo para ser oferecido a Deus. O velho Simeão toma o menino Jesus em seus braços e proclama que ele é luz para iluminar as nações (cf. Lc2, 32). Luz, na Sagrada Escritura, significa salvação.  Jesus, pois, é mostrado como salvador da humanidade. Ao mesmo tempo, Simeão profere dupla profecia. Afirma que o menino será um sinal de contradição. Será acolhido como salvador por muitos. Por outros, será rejeitado. Dirige-se a Maria e afirma que uma espada de dor atravessará a sua alma. Anuncia sua participação no sacrifício redentor de Cristo.

A profecia de Simeão cumpriu-se no calvário. Maria ali estava de pé junto à cruz (Cf.Jo 19, 25). Estar de pé significa atitude de prontidão, de coragem. Maria sofria muito, mas sofria com coragem, com a cabeça erguida, pois compreendia a razão do sacrifício de seu Filho. Com seu sofrimento, ele faria novas todas as coisas.

No momento em que a lança do soldado atravessa o coração de Cristo, a espada de dor, anunciada por Simeão, atravessa a sua alma. O filme de Mell Gibson – A Paixão de Cristo- contém uma cena comovente. Maria aproxima-se de Jesus pregado na Cruz e beija seus pés. Seus lábios ficam tintos do sangue de seu Filho. Ela olha para ele e exclama:”Osso de meus ossos e carne da minha carne!”

Maria exerce junto a Jesus uma mediação de intercessão materna.

Sua presença nas bodas de Cana não foi a de uma simples convidada. O evangelista mostra sua presença como exercício de uma missão, logo no início do ministério público de Jesus. Ela foi a primeira a notar a falta de vinho, símbolo da alegria dos tempos messiânicos. E como mãe solícita e pronta a ajudar, dirige a Jesus uma prece que expressa a intimidade e a familiaridade de uma mãe com relação ao seu filho: eles não tem mais vinho. À primeira vista, parece que Jesus não irá atender ao pedido de Maria. “Que temos nós com isso,mulher? (Jo 2, 4). E acrescenta:  “minha ainda não chegou”, isto é, a hora de revelar a sua identidade de Messias. Naquele momento, afirma João Paulo II em sua encíclica sobre o rosário, Maria lançou sobre Jesus um olhar de mãe. Olhar que vai para além das aparências. Olhar capaz de adivinhar o pensamento do filho. Na certeza de ser atendida, Maria diz aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Jesus realiza seu primeiro milagre, revelando assim a sua identidade de Messias: alguém movido pelo Sopro divino, cheio do poder do Espírito.

Existe no relato, um pormenor importante: Jesus não chama Maria de Mãe, mas de “mulher”, vocábulo que significa, nova Eva, mãe da humanidade. Na cruz, ele repetirá o mesmo vocábulo. Este vocábulo exprime a posição de Maria na história da salvação. Nas bodas de caná, Jesus declara Maria mãe da comunidade de seus discípulos, mãe da Igreja. Na cruz, ao repetir o mesmo vocábulo, proclama Maria mãe da nova humanidade por ele redimida.

Maria a primeira a participar da glória da ressurreição de Jesus.

Ela foi a única criatura a participar de toda a trajetória terrena do Filho de Deus, desde a encarnação até ao calvário. Essa participação não seria completa, se ela não fosse a primeira a participar da glória de sua ressurreição. O corpo que gerou foi o primeiro a participar da glória do corpo que foi gerado. Recordamos esse fato na celebração de sua assunção ao céu.

Glorificada no céu de corpo e alma, ela continua, velando com amor de Mãe, pela Igreja, comunidade do seguimento de Jesus, e pela humanidade por ele redimida na Cruz, recorda-nos o Concílio Ecumênico Vaticano II (cf. Lumen Gentium 62). Continua cumprindo no céu, de modo mais profundo e universal, a mesma missão iniciada na terra. As diversas aparições de Maria no decorrer da história da Igreja mostram que ela está muito próxima de nós. Mostram que continua a cumprir a sua missão de modo concreto e histórico.

Aqui, neste santuário, ela cumpre a mesma missão com relação ao povo brasileiro. Mostra Jesus a todos e conduz todos a Jesus. Conduz sobretudo os pecadores. Cada ano, milhares de pessoas sobem esta colina para expressar o seu amor à Mãe Aparecida e recuperar, no sacramento da confissão, a condição de novas criaturas nascidas nas águas do batismo.

Maria, além de mãe da Igreja, é também sua mestra. Ensina, com seu exemplo o que a Igreja deve fazer para realizar a sua missão: mostrar Jesus ao mundo, levar Jesus às pessoas e conduzir todos a Jesus. A vocação da Igreja é a mesma de Maria.

O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, proclamou ela no canto do Magnificat. As maravilhas que Deus nela realizou, Ele as realizou em nosso favor, para a nossa felicidade, para a nossa salvação.