“Escutai-O!” e, em Cristo, sereis transfigurados

Paz e bênção. “Escutai-O!” e, em Cristo, sereis transfigurados.

Uma flor de luz no nosso deserto. Assim aparece o rosto de Cristo no Tabor. É o rosto último e próprio do homem. No princípio, em cada pessoa foi colocado não um coração de sombra, mas uma semente de luz, sepultada em nós como nosso rosto secreto.

Jesus subiu ao Tabor. Ali a terra se eleva na luz, ali ficam as nascentes das águas que fecundam cada vida. O seu rosto brilhou como o sol: o rosto é como a escrita do coração, a sua expressão. A nobreza do rosto da pessoa somente é compreensível a partir de Jesus. Cada pessoa é como um ícone de Cristo ainda não completo, que é pintado, progressivamente ao longo de toda a existência, sobre um fundo de ouro, já presente desde o início, que é a semelhança com Deus. Viver é liberar toda luminosidade e beleza, sepultadas em nós.

As suas vestes ficaram brancas como a luz: a glória é assim excessiva que não fica só no rosto ou no corpo, mas transparece ao externo e invade a matéria da roupa e a transfigura. Se a roupa é luminosa para além de todas as possibilidades humanas, qual não será a beleza do corpo?

Estavam ali Moisés e Elias, vestidos de luz. Pedro, vislumbrado e seduzido do que vê, sussurra: ‘é belo para nós estar aqui!’ Sim, é belo estar aqui diante deste rosto, que é o único lugar onde podemos viver e repousar. Aqui estamos em casa. Em outros lugares poderemos somente peregrinar. Aqui é e está a nossa identidade: habitar uma luz, uma luz que está dentro do nosso barro e que é o nosso futuro.

Não há fé viva e verdadeira que não venha de um estupor, de um enamoramento, de um “que belo!” gritado a plenos pulmões e de coração, como Pedro no Tabor. E, como todas as coisas belas, a visão não é mais que um fulgor rápido: e, já, uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra. E veio uma voz. Deus, que não tem rosto, tem, porém, voz. Jesus é a Voz, tornada rosto. O Pai toma a palavra – como para se esconder por detrás da palavra de Seu Filho – e diz: escutai-O. A fé é feita do escutar: subiram a montanha para ver, e são enviados a escutar. Descem do monte e na memória permanece o eco da última palavra: escutai-O! Escutai-O!

A visão do rosto dá lugar ao escutar o rosto. O mistério de Deus está todo dentro de Jesus. Assim, o mistério da pessoa. Aquele rosto fala e, na escuta, nos tornamos como Ele, também nós mergulhados em céu (Ermes Ronchi).

Bom Domingo da Transfiguração. Abraço.

Dom João Inácio Müller, ofm

Bispo diocesano de Lorena SP